Maria Gonçalves Ferreira, Dona Lia.
Penerei, penerei...
Você passa a peneira pra cá
eu vou socar meu mio
pra fazer biscoitim de fubá.
...
...
O engenho tá moendo
do lado de lá.
É Mané Capetim
penerando fubá.
Versos de Domínio Público recolhidos por Alessandro Borges Araújo.
O meu amigo, Alessandro Borges Araújo,
me apresentou D. Lia, Maria Gonçalves Ferreira,
numa tarde de um céu irradiando abril.
Entre dedos de prosa, goles de café e deliciosos
biscoitos de goma, D. Lia foi
descrevendo-me a sua arte em tecer peneiras, tendo em suas
mãos a derradeira feitura. Combinamos
que ela faria uma outra peça para que eu pudesse
registrar, o que fizemos numa manhã de
maio, o céu encarnado de azul. Ela com as suas
mãos bordando poeticamente o utensílio
de cozinha e eu me esforçando em captar a
essência dos seus gestos, as cores e
texturas de sua arte.
O Araçuaí serpenteando as barras da
comunidade Beira Rio, provocava em mim reflexões
sobre os movimentos mundanos do bem
viver com simplicidade, zelos e bem querências.
Tais provocações trouxeram-me a
lembrança Edson Nascimento Campos, um outro amigo,
e os nossos momentos de cismar sobre o colorido singular dos cotidianos. A ele, as imagens
e os nossos momentos de cismar sobre o colorido singular dos cotidianos. A ele, as imagens
desse registro, na intenção de
eternizar as possibilidades do “olhar de outro modo”.
Lori Figueiró
Meu caro Lori. Não dá
para esquecer que as mãos transfiguram a natureza
ao darem forma a produtos
que não estão lá: estão cá, do lado de cá da cultura,
pois a mão de quem
opera com a natureza produz cultura. Não só produz o
utilitário que aparece
na peneira, mas o não utilitário que vem com o que
chamamos de poesia:
trabalhos das mãos, poiésis. E aí não dá para esquecer
de D. Maria e de
Alfredo Bosi, com o seu Os trabalhos da mão. Obrigado.
Abraços.
Edson Nascimento Campos