sexta-feira, 27 de julho de 2012

Janelas de São Gonçalo II



Leoni Baracho Ribeiro


                          Merces de Souza


João Claudio dos Anjos


            Maria Vicentina de Souza


Alexandrina da Cunha


            Adão dos Santos Oliveira


Conceição da Dores Correia

                                              Anália da Conceição Rodrigues



Recordo D. Anália, em nossas conversas, me dizendo:
Lori, a vida é boa e é bela.
Voltei a ouvir a mesma expressão na voz
de Sr. Antonio Pereira, lá em Curtume, Jenipapo de Minas.
Seu Lori, a vida é boa e é bela, eu sempre repito,
a vida é boa e é bela e tão mais bela
quando descobrimos a boniteza da vida.
D. Anália, não está mais aqui, foi para outras paragens,
contemplar outras belezas.
Enquanto refogava o feijão, ou o angú era mexido,
ela, muitas vezes resumia as nossas conversas
afirmando que a vida, além de bela e boa, é como um sonho.
Meu filho, a vida não parece de verdade, ocê sabe,
tudo é tão passageiro, parece uma nuvem,
é como um sonho, é, um sonho que a gente sonha
caminhando pela vida, sem esquecer o sonhado
e sem querer deixar de sonhar, e mesmo depois,
acho que a gente continua sonhando,
por isso eu falo, a vida é boa e é bela, ocê num acredita?
Algumas vezes, citei para D. Anália,
o verso do cordelista Santa Helena,
o sonho é o tempero da vida.
Uma outra vez, falei para ela de Manoel de Barros,
poeta lá do Pantanal,
tem mais presença em mim o que me falta.
E mais que um sonho, sei o quanto a vida é para ser sonhada.
Somente quem sonha consegue concretizar alguma coisa,
sim, Pedrina, quem não sonha mais, já desistiu de viver.

Na imagem de D. Anália em minhas mãos,
a luz dos seus olhos, realça em mim
o prazer em me sentir feliz e em paz
com os meus sonhos, com os meus desejos,
quereres de uma vida para ser sonhada.


                                                                                              Lori Figueiró




A série Janelas de São Gonçalo, está atualmente exposta no Bar Vagalume, em Diamantina.
Em janeiro próximo, acrescida de outras imagens, a série Janelas de São Gonçalo estará exposta no 16º Festival de Férias em São Gonçalo do Rio das Pedras.



terça-feira, 17 de julho de 2012

Dona Helena e seus saberes IV


D. Helena, em sua casa, lendo as mensagens dos visitantes
da Exposição
Dona Helena e seus saberes,
no Museu do Diamante, em Diamantina.
















Maria Luiza e Miguel Urion, escrevendo para D. Helena
na Exposição Dona Helena e seus saberes,
no Museu do Diamante.



Gosto, Sandra, de ouvir D. Helena me contando:
olha, Lori, não esqueço do meu pai falando:
Helena, antes de você nascer, você ganhou uma caixa de fósforos.
D. Luiza, a Luizinha Rosa, chegou um dia aqui em casa,
e falou com a sua mãe: Maria Luiza, não tenho
muito o que te dar e nem ao seu filho que vai nascer,
mas tenho aqui uma caixa de fósforos, é para iluminar
a sua hora e os passos do filho que você vai ter,
os caminhos da vida dele...
Eu, Lori, nasci no dia de Santa Helena, 13 de agosto,
por isso o meu nome, e você sabe que eu faço aniversário
duas vezes, é, eu comemoro duas vezes,
o escrivão me registrou no dia 12, então, eu comemoro duas vezes.
E você sabe, como eu já disse, que eu gosto muito de luz, luz é comigo.
Às vezes, eu estou aqui, ou na cozinha, e passa uma luz,
uma claridade, é, eu enxergo luz, claridade,
às vezes, nos muros, eu passando nas ruas, a luz
vai passando, assim... e eu vendo a luz.
O meu pai, ele chamava João Henrique Siqueira,
ele que rachava a lenha e fazia a fogueira, um dia era ele,
no outro, a minha mãe, era aqui na sala, todas as noites,
contando estórias, torrando amendoim, sempre depois da reza do terço,
e a minha vó cachimbando, toda noite era assim...
Por isso o telhado aqui de casa é tão preto, é fumaça do fogão na cozinha,
era a fumaça da fogueira aqui na sala. Então, eu fico pensando, eu acho
que é por isso que eu gosto tanto de luz, D. Luizinha Rosa abençoou
o meu caminho, a minha vida.

E eu, D. Helena, eu sei, assim como Marildinha, que os seus olhos
tem um brilho inconfundível, simplicidade sem tamanho,
reconhecendo como Roberto Amaral, que a sua vida é uma inspiração,
que o seu olhar transmite a certeza de que vale a pena viver pensando no futuro,
como tão bem observou Wanderley, lá de Jequitinhonha.

                                                                                                                  Lori Figueiró

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Em Coronel Murta, um encontro com D. Ana e Sr. Geraldo


 







 






Ana das Graças Santos Jardim, 64 anos e Geraldo Viana Jardim, 79 anos.








De onde estou,
vou ouvindo D. Ana, lá em Coronel Murta,
tocando o seu prato e cantando:

       Geraldo é bonitinho
       e todo mundo disse que é.
       Ele parece o Deus menino
       nos bracinhos de São José.

       Cabelo louro vai
       lá em casa passear.
       Vai, vai cabelo louro
       saudade me matar.

E Sr. Geraldo, satisfeito, me confessando: 
Seu Lori, Ana é assim, a vida toda.
Cuidando da casa, dos filhos, me ajudando,
gostando sempre dos versos, do batuque,
costurando as suas bonecas de pano,
e olha que nós já temos 43 anos de casados.
Eu digo mesmo, é o jeito da pessoa,
nasce com o dom, o dom que Deus deu, né?
Eu a vida toda na lavoura,
não passei pela escola, o meu pai me procedeu
o meu melhor aprendizado, não me esqueço...
Os afazeres da terra, das criações, muito trabalho,
a honestidade, o respeito aos mais velhos e a Deus,
o correto pelo correto, a sinceridade. Não me esqueço...
A escola do meu pai acho que foi até melhor
do que se eu tivesse a leitura, andei o mundo,
o mundo ensina, o meu pai, o Sr. não acha,
não foi o meu melhor professor?
Gosto de ouvir Ana cantando seus versos, suas modinhas,
batendo seu prato.
Eu, Seu Lori, não levo jeito pra essas coisas, não guardo os versos,
não sei tocar nada, nada. Mas, é assim mesmo...
Não me importo, somos muito felizes!
E D. Ana toda satisfeita, a felicidade em pessoa,
enquanto a água não fervia para o cafezinho,
nos servindo um doce de leite, feito por ela com o mesmo zelo
com que toca o seu prato, o doce muito cremoso,
uma nata, maravilhoso, enquanto cantava:

     O engenho tá moendo,
     quero ver cachoeira.
     O engenho tá moendo,
     quero ver cachoeira.

     A cana é minha,
     o engenho é seu,
     a garapa é minha,
     o bagaço é seu.

     O engenho tá moendo,
     quero ver cachoeira.
     O engenho tá moendo,
     quero ver cachoeira.


                                                                                Lori Figueiró


À Mara Leticia N. P. Figueredo, os meus agradecimentos mais sinceros.



segunda-feira, 2 de julho de 2012

Quero

Quero
( um olhar profundo em seus olhos 
   e muitos cuidados )


Quero a luz da poesia
nos olhos de Aleila.

A dança das minhas mãos
no sorriso dos lábios da Menina,
- tempo de latência para tudo
 o que se tem para viver.

Quero encontrar o lencinho branco
molhado de orvalho
na canção de D. Vangelina,
numa das estações do meu interior.

Quero Sandra,
o tempero de avó Anna
nos grãos de uvas
da sua erudição solitária,
lá, nas outras paragens
do centro-oeste.

Quero a paina
e o bater da paina
e o voar da paina
nas sacudidas alinhavadas
de Lilia, mulher assim de ser:
que nem braçada de cana-
da bica para os cochos
dos cochos para o tachos,
nas rememoriações de Riobaldo,
ali, onde esses gerais 
são sem tamanho.

Nos versos em acróstico
de Adilene Oliveira
brincante riqueza natural 
do Jequitinhonha,
quero a força-extremosa
de Rosa Nília e mãe Gera,
os filhos de Sanete
em Mocó dos Pretos
e os filhos de vó Madalena,
todos, em duas quantidades iguais
de treze.

Quero Maria de Celso
e Geni do Congado
e o empregnado dos gestos
e cores
de terras dançantes
no suor da Chapada.

Quero o Norte do olhar
nos olhos de Aneli,
e também a dança para um lado
e outro
brincando de procurar
                                   o ar que você respira.


                                                          Lori Figueiró