E Edson, meu amigo, me escreveu assim:
Lori.
Lembrei-me de você, lendo o texto que
lhe envio em ANEXO. Que a humanidade do menino nos induza a um
crescente e profundo processo de humanização. Abraços: extensivos
a todos os seus. Edson
Na manjedoura
( Clarice Lispector )
Na manjedoura estava
calmo e bom. Era de tardinha, ainda não se via a estrela. Por
enquanto o nascimento era só de família. Os outros sentiam mas
ninguém via. Na tarde já escurecida, na palha cor de ouro, tenro
como um cordeiro refulgia o menino, tenro como o nosso filho. Bem de
perto, uma cara de boi e outra de jumento olhavam, e esquentavam o ar
com o hálito do corpo. Era depois do parto e tudo úmido repousava,
tudo úmido e morno respirava. Maria descansava o corpo cansado, sua
tarefa no mundo seria a de cumprir o seu destino e ela agora
repousava e olhava. José, de longas barbas, meditava; seu destino,
que era o de entender, se realizara. O destino da criança era o de
nascer. E o dos bichos ali se fazia e refazia: o de amar sem saber
que amavam. A inocência dos meninos, esta a doçura dos brutos
compreendia. E, antes dos reis, presenteavam o nascido com o que
possuíam: o olhar grande que eles têm e a tepidez do ventre que
eles são.
A humanidade é filha de
Cristo homem, mas as crianças, os brutos e os amantes são filhos
daquele instante na manjedoura. Como são filhos de menino, os seus
erros são iluminados: a marca do cordeiro é o seu destino. Eles se
reconhecem por uma palidez na testa, como a de uma estrela de tarde,
um cheiro de palha e terra, uma paciência de infante. Também as
crianças, os pobres de espírito e os que se amam são recusados nas
hospedarias. Um menino, porém, é o seu pastor e nada lhes faltará.
Há séculos eles se escondem em mistérios e estábulos onde pelos
séculos repetem o instante do nascimento: a alegria dos homens.
LISPECTOR, Clarice. A
manjedoura. In:______ Para não
esquecer. São Paulo: Siciliano, 1992. p. 41.
Agradecido, retribuo a você, Edson, os meus abraços, extensivos a todos os seus e a todos os meus amigos, convidando a todos para o Projeto em Flor do poeta Drummond:
chega Natal e nos convida
a juntar bondade e beleza
no sem-par mistério da vida.
Amém!
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