segunda-feira, 29 de julho de 2013

Vale: vida, O Fotógrafo

























O Fotógrafo


Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerquei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de
braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.

                                                                                            Manoel de Barros



Vale: vida




















































Sabemos que várias são as possibilidades de ler o mundo, entre elas,
as linguagens teatro, dança, música e fotografia.
As imagens da Exposição Vale: vida, captadas pelas lentes sensíveis do
fotógrafo Lori Figueiró, propiciaram o tom às interpretações artisticas dos
músicos Dênner Pinheiro, Yuri Hunas, Josino Medina, Narjara Fonseca,
Bernardino Lopes de Caldas e do Coral Ribeirão de Areia, entremeadas pelos
versos de Gioconda Belli, Carlos Drummond de Andrade e Thiago de Melo,
nas vozes de Diêgo Alves e Viviane Prates Tito.
No espaço aconchegante e contagiante do Vale com Valor, o prazer mais puro
e intenso de compartilhar afetos e saberes. Magia e encantamentos!
Assim, em um outro momento de delicadeza e graça, os sons festivos de cordas e
percussão de Dênner Pinheiro e Yuri Hunas, ecoaram nos corpos em movimento
dos integrantes do Coral Ribeirão de Areia na alegria pretensiosa de coreografar
o poema O fotógrafo, do poeta mato-grossense Manoel de Barros, na homenagem
a Lori Figueiró.
Identificar e nomear todos os presentes não foi possível, entretando, a maravilha
de ser tocada por seus olhares, suscitou em mim a certeza de que os sonhos e as
artes precedem os projetos da contínua renovação da vida.
Agradecida com tantas emoções, vou me alimentando dos versos do poeta
Drummond na voz de Diêgo Alves:

    Estou preso à vida e olho meus companheiros
    ...
    O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
    a vida presente.

Viva a vida e viva a arte,
em Araçuaí, viva o Vale com Valor,
viva o Vale do Jequitinhonha!

                                                                                               Sandrinha Barbosa


E o Edson, meu amigo, me escreveu: "Pois é, Lori. Recentemente, o refugiado palestino , Muhammad Assaf, 23 anos - desde os 5 anos vivendo no campo de refugiados Khan Yunis, 
na faixa de Gaza - que venceu,como cantor, o "Arab Idol" , afirma o seguinte: "Sob todas as dificuldades, acredito que a arte é o lugar em que você respira"."

                                                                                                        Lori Figueiró

terça-feira, 23 de julho de 2013

Coral Ribeirão de Areia, Imagens, Prosas e Poesias IX

















O Fotógrafo


Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerquei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de
braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.

                                                                 Manoel de Barros



Maria de Fatima Moreira Alves,
17 anos

Maria de Fatima Moreira Alves

Maria de Fatima Moreira Alves



                              Fotografia, Maria de Fatima Moreira Alves

... 
Fotografar o silêncio é o mesmo que ouvir o som do vento, das águas, ou seja,
os sons que a natureza possui. Fotografar o perfume de um jasmim é suavizar
as poeiras que flutuam pelo ar. Fotografar a existência de um lagarto ou de uma
lesma, é assistir o existir de Deus na face da terra. Fotografar o perdão é apreciar
a poesia simples que há dentro de cada um de nós.

                                 Ingrid Estefani Leite Lisboa, 12 anos




















                                
                                        Fotografia, Keilla Estefany Ferreira, 14 anos