O Fotógrafo
Difícil fotografar o
silêncio.
Entretanto tentei. Eu
conto:
Madrugada a minha
aldeia estava morta.
Não se ouvia um
barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma
festa.
Eram quase quatro da
manhã.
Ia o Silêncio pela rua
carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um
carregador?
Estava carregando o
bêbado.
Fotografei esse
carregador.
Tive outras visões
naquela madrugada.
Preparei minha máquina
de novo.
Tinha um perfume de
jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na
existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência
dela.
Vi ainda um azul-perdão
no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem
velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar
o sobre.
Por fim eu enxerquei a
Nuvem de calça.
Representou para mim
que ela andava na aldeia de
braços com Maiakovski
– seu criador.
Fotografei a Nuvem
de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no
mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir
a sua noiva.
A foto saiu legal.
Manoel de Barros
Maria de Fatima Moreira Alves,
17 anos
Maria de Fatima Moreira Alves
Maria de Fatima Moreira Alves
Fotografia, Maria de Fatima Moreira Alves
...
Fotografar o silêncio
é o mesmo que ouvir o som do vento, das águas, ou seja,
os sons que a natureza
possui. Fotografar o perfume de um jasmim é suavizar
as poeiras que flutuam
pelo ar. Fotografar a existência de um lagarto ou de uma
lesma, é assistir o
existir de Deus na face da terra. Fotografar o perdão é apreciar
a poesia
simples que há dentro de cada um de nós.
Ingrid Estefani Leite Lisboa, 12 anos
Fotografia, Keilla Estefany Ferreira, 14 anos
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