quinta-feira, 31 de maio de 2012
Compadres que falam e ouvem compadres
Aqui nas geraes,
Sandra,
os compadres ainda tem o habito
de ouvir
e falar aos compadres.
O velho Rosa, me apresentou
Riobaldo, compadre meu
de cismas e andanças,
e nele reconheço
que o correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
E mais,
o que ela quer da gente é coragem.
Sr. Bernardino, mais de uma vez
me olhando de frente, me alertou:
o sapo, Seu Lori, não pula
por buniteza,
ele pula é por pricisão.
Tudo no mundo se não tiver
uma tranguilidade,
não dá pa viver.
Palavras de Sr. José Batista,
compadre lá de Tamanduá,
sorriso matreiro,
me pedindo para espreitar:
não cai uma folha de uma árvore
se não for da vontade de Deus,
o senhor não acredita?
E em tantas outras ocasiões
assuntando Riobaldo,
meu compadre,
esta vida está cheia
de ocultos caminhos.
Se o senhor souber, sabe;
não sabendo, não me entenderá.
Que assim seja!
Lori Figueiró
Bernardino Lopes de Caldas, José Batista Nunes
e um auto-retrato.
quarta-feira, 30 de maio de 2012
D. Felicina e o calor das suas mãos
Felicina Martins de Oliveira
Raízeira e benzedeira,
moradora em Muquém,
povoado de Jenipapo de Minas.
Manhã de terça-feira, Muquém, povoado de Jenipapo de Minas.
Assim que eu cheguei na casa de D. Felicina, ela foi logo declarando que se sentia honrada com a minha visita, mas que não entendia o desejo de um moço bonito da cidade querer conhecer uma velha de 84 anos. Também me declarou que não se reconhece como curandeira, apenas reza as palavras, quem cura, meu filho, é Deus, pai do menino Jesus. Orgulhosa, me confessou que não podia dizer a toda gente, mas o pé de Imburana à esquerda da casa e o pé de Jatobá Branco à direita, foram plantados para proteger ela e a família dos bruxos que vivem soltos pelo mundo. Quem tem uma família como eu tenho, e foi enumerando, 9 filhos, o meu único filho homem, um ouro de menino, Deus levou para a sua companhia, 19 netos e 10 bisnetos, precisa se guardar sempre, com muita fé e muita reza. E ajudar sempre a Deus e a seus filhos com as minhas rezas e os remédio que eu aprendi a ministrar. E que apesar de estar envergonhada e um tanto rouca, arranjei uma rouquidão que não me larga de jeito nenhum, quero cantar pro senhor uns versinhos de entrada de Santo Reis.
Santo reis chegando aqui
no dia seis de janeiro
no dia seis de janeiro
abra a porta senhora dona da casa
abra a porta e acenda a luz
abra a porta e acenda a luz
receber a Santo Reis
receber a Santo Reis
e o menino de Jesus
e o menino de Jesus.
Dá a esmola a Santo Reis
dá a esmola a Santo Reis
mas não dá por precisão
mas não dá por precisão
Santo Reis pede esmola
Santo Reis pede esmola
quem dá de bom coração
quem dá de bom coração.
Santo Reis, seu moço, pede esmola não é por precisão, ele pede é esprementando quem dá de bom coração. Generoso, meu marido, era devoto de Santo Reis, já tem 14 anos que está cantando com Nosso Senhor lá no céu, ele também gostava de uma comidinha com pimenta do reino, e tinha de ser com muita, e por falar em comidinha, seu moço, vamos almoçar.
De D. Felicina, guardo comigo o seu olhar doce e amoroso, seu jeitinho espevitado, o calor das suas mãos, o sabor do feijãozinho com arroz, abóbora moranga, muito alho e pimenta do reino, e a certeza de que tenho com ela uma dívida, voltar para cantarmos juntos, em janeiro, a Folia de Reis.
Lori Figueiró
terça-feira, 22 de maio de 2012
"É a lembrança que eu deixei procê"
"eu tinha oito anos, aprendi com Tio Joãozinho, meu professor".
ROSAS
ROSAS
Ilídia Batista Lopes,
com seus 96 anos,
é o morador mais idoso em
São Gonçalo do Rio das Pedras.
Na manhã do último domingo, assim que eu cheguei em sua casa, D. Ilídia foi logo
anunciando saudades e que havia guardado uma lembrança para mim.
O presente, Rosas, uma poesia da sua infância longínqua, que ela fez questão de frisar:
eu tinha oito anos , aprendi com Tio Joãozinho, meu professor.
Encantado, pedi a ela que repetisse para que eu pudesse registrar.
Rosas
Segundo a lenda antiga
Maria com São José
fugindo da gente inimiga
transpondo caminhos a pé
e a proporsão que Maria
deixou rastro no chão
todos os caminhos floriam
de rosas em profusão
um branco doce suave
rosas que nenhuma havia
pela terra que não fossem
da cor dos pés de Maria
depois do tempo volvido
o peso de imensas cruzes
pelo caminho florido
um homem passou Jesus
passou pelas barracas
nas asas das abelhas
nos tufos das rosas brancas
brotaram rosas vermelhas
só duas cores havia
de rosas que aqui resistem
a cor dos pés de Maria
e a cor das chagas de Cristo.
( autor desconhecido )
Mais a tarde, encontrei novamente com D. Ilídia, agora no gramado da Igreja de São Gonçalo,
na companhia de amigos e admiradores, assistindo a um Concerto de Bandas Musicais.
Uma luz emanava dos seus olhos envolvendo a todos num rastro de cores e harmonia.
Reconheço em D. Ilídia uma das crenças do velho Rosa e do jagunço Riobaldo, "que Deus quer
é ver a gente a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e ainda mais alegre no meio
da tristeza."
domingo, 20 de maio de 2012
Coral Ribeirão de Areia
No 1º Aniversário do Coral Ribeirão de Areia, as impressões
de Alessandra, Andressa e Ivânia, integrantes do Coral.
Entre sonoros cantos de passarinhos
assovios largos de meninos
sobre voltas e revoltas de montanhas
o tempero e o destempero
de um clima seco, árido
assim surge um povo, o meu povo.
A comunidade de Ribeirão de Areia
apresenta o resultado do processo
inicial da Oficina Expressão Cênico Musical
financiado pelo projeto Ponto de Cultura
através da AJENAI.
Grace Matos
de Alessandra, Andressa e Ivânia, integrantes do Coral.
Entre sonoros cantos de passarinhos
assovios largos de meninos
sobre voltas e revoltas de montanhas
o tempero e o destempero
de um clima seco, árido
assim surge um povo, o meu povo.
A comunidade de Ribeirão de Areia
apresenta o resultado do processo
inicial da Oficina Expressão Cênico Musical
financiado pelo projeto Ponto de Cultura
através da AJENAI.
Grace Matos
quinta-feira, 10 de maio de 2012
Dherison e Nicinha, sua mãe.
Na manhã do Dia do Trabalho, em Jenipapo de Minas, o Grupo Consciência Negra se reuniu para um ensaio. Dherison, paramentando as vestes do Consciência e batucando os seios de Nicinha, sua mãe, era festejado com admiração pelos famíliares e amigos nos seus quinze dias, recebendo a luz intensa do cerrado.
Nicinha me trouxe à memória, Gioconda Belli, escritora nicaraguense e seu poema "Dando de Mamar", na tradução de Silvio Diogo.
Ao pegá-la, tenho que ter cuidado.
É como tentar carregar um montinho de água
sem derramar.
Sento-me na cadeira de balanço,
embalo-a,
e ao primeiro queixume,
começo a dar de mamar como uma vaca tranquila.
Ela volta a ser minha,
coladinha em mim,
dependendo de mim
como quando só eu a conhecia
e ela vivia em meu ventre.
A você Nicinha, o meu carinho e o desejo de muitas alegrias e boa sorte.
Feliz Dia das Mães, todos os dias.
( Cleonice Cardoso Soares e Dherison Guilherme Soares Silva, são moradores
em Jenipapo de Minas e integrantes do Grupo Consciência Negra.)
domingo, 6 de maio de 2012
Sr. Izalino e Sr. Antonio Pereira
Assim que chegamos à casa de Sr. Izalino,
Sr, Antonio Pereira se fez ouvir:
- cumpadre,
a vida é boa e é bela
só tem que saber conservar ela.
Sr. Izalino assuntou um instantinho só
e dedinhando o violão
se fez ouvinte:
- cumpadre,
quando eu morrer
me enterre no chapadão,
deixe meu braço de fora
com um retratinho dela na mão.
Sr. Antonio Pereira sem pestanejar,
retrucou:
- cumpadre,
ocê assunta esse mundo
que esse mundo é um relógio,
fala para Mariquinha,
que se ela quizer casar, nós casa
se ela quizer fugir, nós foge.
Era apenas o início de uma manhã de sábado...
Lori Figueiró
( apropriação livre dos versos e expressões
de Sr. Izalino e Sr. Antonio Pereira )
Izalino Gomes Guimarães e Antonio Pereira de Souza, além de compadres,
são parceiros de versos e folias desde quando ainda usavam calças curtas,
são moradores em Curtume, povoado de Jenipapo de Minas.
sexta-feira, 4 de maio de 2012
D.Rita e Sr. Antonio Pereira
Na manhã de quinta-feira, enquanto
D. Rita preparava o almoço, Sr. Antonio Pereira recebeu
a visita do Sr. José Jorge Tavares Pinheiro, e com ele tocou sua caixa de folia interpretando versos e cantigas de autoria própria, no entremeio a narrativas de sua vida como tropeiro, lavrador, raízeiro, benzedor e jogador de versos.
Assim que anunciou que o almoço estava pronto, D. Rita satisfazendo um pedido nosso, acompanhou o marido numa rodada de versos e cantigas.
Batucando o seu pandeiro, cantou
os versinhos que compôs para mim:
"Lori, quando eu te conheci
foi muita amizade
quando eu te amei
foi uma loucura
mas para mim te deixar
só se for depois da sepultura."
Sr. Antonio, não deixando por menos, declamou os versinhos que compôs para Elisângela:
"Elisângela, o machado corta pau
com grande felicidade
só que ele não pode cortar
a nossa amizade.
Elisângela, o nosso amor é lindo
é lindo e honesto
só Deus é quem sabe
o quanto eu te quero."
Depois de um franquinho, feijãozinho com arroz, abóbora, salada de tomate e um bom dedo de prosa, um passeio pelo Curtume e a promessa de um novo encontro para visitarmos D. Rosa e Sr. Izalino.
E como D. Rita e Sr. Antonio Pereira me anunciaram:
"Em cima daquela serra
tem um ninho de beija-flor
em cima daquela serra
tem um ninho de beija-flor
Se você ver, você dúvida
que é começo de amor
Se você ver, você dúvida
que é começo de amor."
( Elisângela é Coordenadora da AJENAI e prima de Sr. Antonio Pereira.)
Rita Pinheiro Santos Souza e Antonio Pereira de Souza, são moradores em Curtume,
comunidade de Jenipapo de Minas.
D. Rita preparava o almoço, Sr. Antonio Pereira recebeu
a visita do Sr. José Jorge Tavares Pinheiro, e com ele tocou sua caixa de folia interpretando versos e cantigas de autoria própria, no entremeio a narrativas de sua vida como tropeiro, lavrador, raízeiro, benzedor e jogador de versos.
Assim que anunciou que o almoço estava pronto, D. Rita satisfazendo um pedido nosso, acompanhou o marido numa rodada de versos e cantigas.
Batucando o seu pandeiro, cantou
os versinhos que compôs para mim:
"Lori, quando eu te conheci
foi muita amizade
quando eu te amei
foi uma loucura
mas para mim te deixar
só se for depois da sepultura."
Sr. Antonio, não deixando por menos, declamou os versinhos que compôs para Elisângela:
"Elisângela, o machado corta pau
com grande felicidade
só que ele não pode cortar
a nossa amizade.
Elisângela, o nosso amor é lindo
é lindo e honesto
só Deus é quem sabe
o quanto eu te quero."
Depois de um franquinho, feijãozinho com arroz, abóbora, salada de tomate e um bom dedo de prosa, um passeio pelo Curtume e a promessa de um novo encontro para visitarmos D. Rosa e Sr. Izalino.
E como D. Rita e Sr. Antonio Pereira me anunciaram:
"Em cima daquela serra
tem um ninho de beija-flor
em cima daquela serra
tem um ninho de beija-flor
Se você ver, você dúvida
que é começo de amor
Se você ver, você dúvida
que é começo de amor."
( Elisângela é Coordenadora da AJENAI e prima de Sr. Antonio Pereira.)
Rita Pinheiro Santos Souza e Antonio Pereira de Souza, são moradores em Curtume,
comunidade de Jenipapo de Minas.
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