sábado, 1 de fevereiro de 2014

Ilídia Batista Lopes, "Por muito tempo vou vivendo feliz com tantos amigos pra eu sonhar."



















Veja-me só que elegância
Em que ponto eu hoje estou
Com esta bela sombrinha
Que o padrinho me comprou.

Andando assim como eu ando
Toda galante sombrinha
Não há ninguém que me deixe
De julgar como uma mocinha.

Quero que todos exclamem
Isso sim não é menina
Repare e veja que é
Uma mocinha pequenina.

Seguro na minha saínha
Como faz toda senhora
Mas não se ria de mim
Senão daqui eu vou me embora.

E quem muito há de gostar
De me ver assim vestida
Toda catita e galante
É a mamãezinha querida.

                                       Autor desconhecido, por Ilídia Batista Lopes.

















Há certos momentos na vida em que não podemos pensar muito.
Ao convite de Lori Figueiró - Vamos visitar Dona Ilídia? - a pronta afirmação de quem viu nesta senhora, parte dos seus.

Chegando em sua casa, confirmo a previsão de meu cicerone de encontrá-la com um tercinho na mão acompanhando a missa televisionada. Ela levanta-se com uma vitalidade admirável, sorri cúmplice ao velho conhecido e graceja um forte abraço ao estranho inesperado.

- Diêgo queria ver a senhora e conversar um pouquinho. Ele vem lá de Araçuaí.
- Veio de Araçuaí pra ver essa veiá?!
- Velha nada. O que a senhora tem é juventude acumulada, brinco.

Aos primeiros cliques do amigo fotógrafo, percebo a luz de sua vaidade feminina:
- Num é melhor eu vestir um outro paletó?
- Não precisa, essa roupa tá bonita. Vai conversando com Diêgo enquanto eu registro vocês.

Assim, acostumada aos flashes ela desfia seu rosário de lembranças: o tempo de menina brincando livre nas ruas de São Gonçalo, o grupo escolar e a sua primeira mestra, a lida precoce com a agricultura, o seu pavor (bem justificado, por sinal) de hospital, onde um dia ela se tratando, por displicência da enfermeira, a vovó como era chamada, quase morre, a fé inabalável e a curiosa hierarquia na divisão do dízimo aos santos e santas de sua devoção onde a maior parte é para São Gonçalo, é claro.

Sabendo do meu desejo de lhe ver e ouvir recitando os poemas aprendidos e apreendidos em tenra idade, ela se posta de maneira garbosa, respeitável e com a sombrinha reservada para este atuar, declama "Veja-me só que elegância!”, "Rosas", e como ela diz ouro na boca, a oração Salve Rainha.


Após aplausos e agradecimentos, Dona Ilídia sentencia: Louvado seja meu Senhor Deus! Por muito tempo vou vivendo feliz com tantos amigos pra eu sonhar.


                                                                                                       Diêgo Alves


                                                                                                                                                                           




Um comentário:

  1. ... Tem certos momentos na vida que não devemos pensar muito mesmo amigo Diêgo Alves, melhor vivê-los. Lori encantado por pessoas nos encanta também, viva!

    ResponderExcluir