D.
Zefa, A Sacralização do Cotidiano
“ Deus quando preparou o
homem
ele pôs o fogo no coração
do homem.
O fogo tá dentro de nós.
O amor é o fogo que nunca se
apaga.”
Josefa Alves dos Reis
De
origem nordestina, Sergipe, Josefa Alves dos Reis, rompeu barreiras,
atravessou a dor do desfacelamento familiar e veio parar nas Minas
Gerais. Especificamente Araçuaí, cidade do Vale do Jequitinhonha,
onde fincou raízes e floresceu no artesanato. Trabalhou vários anos
com cerâmica, mas foi na madeira do cerrado que encontrou
matéria-prima para verbalizar o seu imaginário e reproduzir o seu
olhar sobre as relações e questões humanas, garantindo, por muito
tempo, o seu sustento até a sua aposentadoria. Segundo ela, a opção
pelo trabalho em madeira é porque ela cura. “Cada pau de madeira
cura uma parte do corpo, enquanto o barro resfria e adoece”.
O
seu trabalho, como o de tantas outras mulheres do Vale, transcendeu
os costumes e a realidade da época, quando em suas criações
humanas expressou o instinto materno de reprodução, proteção,
acolhimento e ainda contribuiu para o reconhecimento da cultura do
Vale.
Hoje,
Patrimônio Cultural, Zefa, acostumada a um grande público de
admiradores, dedicou-se a arte de contar histórias. E a faz com
muita habilidade e destreza que prende a atenção dos ouvintes e
dissemina a sua sabedoria. Nessa magia entre relatos de sua vida
pessoal e o imaginário, expõe a sua fé, traduzindo vários
ensinamentos cristãos e outros extraídos de sua intimidade com a
natureza, principalmente, a Mãe Terra que, conforme sua crença, há
uma sincronia com Deus e lhe dá tudo que necessita, basta pedir. É
raizeira, rezadeira e benzedeira nata.
Nas
paredes de sua casa há uma extensa exposição de seu universo
profissional e religioso. Essa memória que visualiza todos os dias a
fortalece e não se deixa abater pelos 89 anos de idade. No seu
dia-a-dia vai esculpindo a Mestra Zefa e fazendo histórias que nos
encantam. O seu mundo exterior é habitado por vários animais:
gatos, periquitos com quem há um bom convívio. Eles preenchem a sua
solidão com afagos e acolhem bem os visitantes.
Essa
exposição é parte do Projeto Sacralização
do Cotidiano, de
autoria do diamantinense, Lori Figueiró, fotógrafo e
video-documentarista, membro fundador do Centro de Cultura Memorial
do Vale que, através de sua refinada percepção fotográfica,
captou essa singularidade - ZEFA - e por meio desses registros, nos
apresenta a sua pluralidade expressa em sua arte, sua fé, seu
imaginário, seu cotidiano, sua memória que compõem a sua história
pessoal e enriquece a cultura desse Vale.
Adna
Figueiró Duarte
Josefa Alves dos Reis, (D.Zefa)
Lori, diante da maravilha do seu trabalho poético valorizando o Humano pela foto...grafia como não citar Manoel de Barros:
ResponderExcluirVi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Vi um paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.