quinta-feira, 1 de maio de 2014

Juscelino da Conceição Santos

                                                    Diêgo Alves




Juscelino da Conceição Santos

Seu Juscelino de pronto sentenciou:
Moço, o senhor num fica amargoso não,
mas num faz retrato d'eu não, essas máquinas
costuma arrancar de nós as intimidades,
coisa qu'eu preservo e de fato conservo.
Eu, o senhor fique sabendo, eu num tenho
leitura não, só tenho manjamento, seu moço.
Penso muitas vezes isquisitado, sou assim mermo!
Um homem metido nesses matos desde qu'eu nasci,
uma vida toda vivendo no cerco dessas vargem,
terras de meu Deus.
Da minha mãe, moço, alembro pouco, deslembro até.
Discansou cedo, na flor fulorescente da idade.
Consta que no disgosto dos dias mais aperreados
adoçava a solidão com mel de garapa,
de quando em vez, licor de banana e pequi,
alvejando o enxoval nos lajedos do ribeirão,
ou assuntando o clarear dos céus nas noites de geadas.
O meu pai, que Deus também o tenha do lado dele,
era homem de gadaria, pastos conservado no arame,
homem forçoso, caridoso de bom
e aguentador de enormes trabalho,
bruto de forças e variáveis palavras.
Acostumando muito dispois de arreunir nós tudo,
nos aconselhando propagar:
Deus, meus filhos, depositou no mundo
um prato só, que nós tudo, cada qual com a sua colher
remexe tempero e quantidade no honesto de se prezar
como filho do Pai e da Mãe Imaculada,
honrando o que de fato merece de ser louvado,
achados de bem e de bom,
em quantidades.
E eu, seu moço, no assentar dos ensinamentos dele
e merecedor de ser servo de Deus, no acostumado
vim me fazendo homem e pai de família,
louvando o que assim seja!

                                                                     Lori Figueiró

                                                                 (Para Diêgo Alves:
                                                                  Apreciação, narração e interpretação.)

                                              





3 comentários:

  1. Sinhá Secada em diálogo com seu Juscelino. Lori, as pessoas precisam conhecê-lo.

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    1. Porque o ator permitiu o diálogo com Sr. Marquinhos e Seu Bernardino, se achegou Seu Juscelino. Para a apreciação do existir o exercício de narrar e interpretar.

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    2. Temos dois sábios (Dona Maria da Luz e Seu Juscelino) que mostram-nos que de fato, não é só em livros que se encontra a Sabedoria. Ou que para desvendá-la é preciso ir além dos livros e ler o mundo (com os olhos da alma) como sugere Mia Couto.

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