sexta-feira, 8 de março de 2013

D. Aruina, " fui aprendendo e ezecutando o ofício de ser parteira, uma missão que Deus deixou pra mim."



Aruina Leite Caldeira
e Raissa Leite Novais,
sua bisneta.










Conheci D. Aruina sentada na porta da sua casa debulhando milho, no Bosque,
comunidade de Jenipapo de Minas, na tarde da última quinta-feira do mês de
fevereiro. Com 68 anos e parteira desde os treze anos quando ganhou o
primeiro dos oito filhos, todos ela teve sozinha, todos ela mesmo cortou o
umbigo e assim foi aprendendo e ezecutando o ofício de ser parteira, uma
missão que Deus deixou pra mim, cada qual com o seu destino, como ela
mesmo me confessou. Entre uma conversa e outra e entre tantas outras
indagações, perguntei como ela rezava a Salve Rainha na hora dos partos.
Eu rezava a Salve Rainha duma vez, senão eu esquecia o pedaço queu tinha
rezado, e voltar pra trás, porque desde que a gente começa ela, Nossa Senhora
de joelho, eu rezava duma vez, enquanto a gente num arrematar, Nossa Senhora
de joelho, porque Salve Rainha é de Nossa Senhora, assim eu rezava ela
direto, duma vez, porque quando eu terminasse eu num tinha errado as palavras.
E a senhora batizava os meninos, também?
Batizava... com águinha morna, com águinha morna, não. Com os milagres de
Bom Jesus. Se não tivesse da igreja de Bom Jesus, se a mulher não tivesse,
eu lavava os da imagem na xícara com um pinguinho d'água e fazia cruzinha
no moleirinho dele e na testinha e dava um colinho pra beber, aí, o menino
batizado!
eu pegava a imagem de Bom Jesus, punha águinha dentro da xícara ou dentro
do copo e lavava os pezinho da imagem três vezes, com águinha dentro e agora
eu vinha e punha na moleirinha dele e fazia a cruz, na testinha dele e fazia três
gotinhas pra beber.
Isso de todas as crianças que a senhora pegava?
Toda criança, eles não ficava pagão não! Agora, a mulher se tivesse dos milagres
de Bom Jesus, quem sempre vai, trás, eu perguntava, ocês tem a água de Bom Jesus,
aqui? Tenho. Então pega uma colher e me um tiguinho aqui, deix'eu ele.
Aí, me dá. Eu punha na colher, punha na boquinha dele, punha no moleirinho dele
e na testa. Agora se não tivesse, é como eu falando, pegava uma imagem de
Bom Jesus, limpava os pezinho dela bem limpinho, que às vezes tinha poeira,
colocava dentro da xícara, fazia aqui ó, cruzado, aí, agora a água bento, punha
no moleiro dele e na testinha, e fica batizado! Acho que eu não falando
errado não, acho que não.
É a melhor descrição que já me deram de um batismo, foi a senhora.
Pois é?
É. É sério!
Ocê, num é rindo de mim, não?
A senhora pode não acreditar, mas estou sendo sincero, a descrição mais bonita
que eu já ouvi de um batismo, é a da senhora.
Num faz isso...


                                                                                            Lori Figueiró










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