Aruina Leite Caldeira
e Raissa Leite Novais,
sua bisneta.
Conheci D. Aruina sentada na porta da sua casa debulhando milho, no Bosque,
comunidade de Jenipapo de Minas, na
tarde da última quinta-feira do mês de
fevereiro. Com 68 anos e parteira desde
os treze anos quando ganhou o
primeiro dos oito filhos, todos ela
teve sozinha, todos ela mesmo cortou o
umbigo e assim foi aprendendo
e ezecutando o ofício
de ser parteira,
uma
missão que
Deus deixou pra mim,
cada qual com o
seu destino,
como
ela
mesmo
me
confessou.
Entre
uma
conversa
e
outra
e
entre
tantas
outras
indagações,
perguntei como ela
rezava a Salve Rainha na hora dos partos.
Eu rezava a
Salve Rainha duma vez,
senão eu esquecia o
pedaço queu já tinha
rezado, e aí
voltar lá pra trás,
porque desde que a
gente começa ela, Nossa
Senhora
tá de joelho,
aí eu rezava duma
vez, enquanto a gente
num arrematar, Nossa
Senhora
tá lá de
joelho, porque Salve Rainha
é de Nossa Senhora,
assim eu já rezava
ela já
direto, duma
vez, porque quando eu
terminasse eu num tinha
errado as palavras.
E a senhora batizava os meninos,
também?
Batizava... com
águinha morna, com águinha
morna, não. Com os
milagres de
Bom Jesus. Se
não tivesse da igreja
de Bom Jesus, se
a mulher não tivesse,
aí
eu lavava os
pé da imagem na
xícara com um pinguinho
d'água e fazia cruzinha
no moleirinho
dele e na testinha
e dava um colinho
pra beber, aí, o
menino tá
batizado!
… eu pegava a
imagem de Bom Jesus,
punha águinha dentro da
xícara ou dentro
do copo e
lavava os pezinho da
imagem três vezes, com
águinha dentro e agora
eu vinha e
punha na moleirinha dele
e fazia a cruz,
na testinha dele e
fazia três
gotinhas pra
beber.
Isso de todas as crianças que a
senhora pegava?
Toda criança,
eles não ficava pagão
não! Agora, a mulher
se tivesse dos milagres
de Bom Jesus,
quem sempre vai, trás,
eu perguntava, ocês tem
a água de Bom
Jesus,
aqui? Tenho.
Então pega uma colher
lá e me dá
um tiguinho aqui, deix'eu
dá ele.
Aí, me dá.
Eu punha na colher,
punha na boquinha dele,
punha no moleirinho dele
e na testa.
Agora se não tivesse,
é como eu tô
falando, pegava uma imagem
de
Bom Jesus,
limpava os pezinho dela
bem limpinho, que às
vezes tinha poeira,
colocava dentro
da xícara, fazia aqui
ó, cruzado, aí, agora
a água tá bento,
punha
no moleiro dele
e na testinha, e
aí fica batizado! Acho
que eu não tô
falando
errado não,
acho que não.
É a melhor descrição que já me
deram de um batismo, foi a senhora.
Pois é?
É. É sério!
Ocê, num tá
é rindo de mim,
não?
A senhora pode não acreditar, mas
estou sendo sincero, a descrição mais bonita
que eu já ouvi de um batismo, é a da
senhora.
Num faz isso...
Lori Figueiró
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