D. Aruina, na tarde de ontem com a sua bisneta Jaqueline Aparecida Passos,
que ela recebeu em suas mãos e adotou como filha, e sua outra bisneta, Raissa
Leite Novais.
Ainda naquela tarde de quinta-feira, D. Aruina foi me contando dos oito filhos que teve, todos
os filho meu eu tive só comigo, eu mesmo cortei os umbigo, eu mesma tirei os parto, tive vergonha sempre de me mostrar pros outro e até pro meu marido, num gostava que ele
me visse daquele jeito, e nisso fui aprendendo e ezecutando o ofício de ser parteira, uma
missão que Deus deixou para mim, ocê sabe, cada qual com o seu destino, com as suas obrigação, e ocê sabe, eu sempre tive muita corage, e graças a Deus, uma coisa que nunca
me faltou foi a corage, só pra ocê ficar ciente, eu vou contar um caso procê vê como eu
tenho corage:
O senhor
conhece pé de piquizeiro,
num conhece? Pois é,
eu fui buscar piqui, mais
meu velho, meu
marido, porque eu chamava
ele de velho. Aí,
nós fomos de madrugada
buscar piqui,
aí, num foi nada não,
aí, quando eu baixei
dibaixo de um pé
de piquizeiro,
como daqui lá
naquele pau, aquele altão
lá, e o outro
lá naquele pé de carne
de vaca, aí,
ele falou, ô
velha, ocê fica neste
pé de piqui, queu vou
naquele lá, qui aquele
lá pro ser
ir tem muito
serrote e ocê tá
cum esse barrigão, ocê
pode ficar aqui, aí,
eu falei, sim.
Aí, ele foi
pra lá, aí, quando
eu tô catando piqui,
me passou uma dor
me picando na
minha barriga,
aí, eu falei, hem
hem, ô meu Deus,
será queu num vou
levar piqui, aí,
quando eu vi,
que diferançou, eu pensei,
será que Deus querer
e Nossa Senhora
lavai por nas
minha mão, ô Nossa
Senhora me ajuda, me
dá força e a coragem.
Um meio
saco, eu já tava
com um meio saco,
já fui dispejando no
chão e fui panhando
a minina, do
piquizeiro, nas bandas do
pé de piquizeiro.
Num sei se
ocê sabe... mas ocê
sabe, aquele chapadão que
vira lá pro Córrego do
Pedro,
onde Zé Gomes
da Água Branca morava,
onde Nenzinho de Zé
Gomes tem lavoura lá,
muito pra lá,
adonde Joaquim Pedro, no
Córrego do Pedro, onde
qui Joaquim Barbosa
morava. Fui
ganhar essa minina lá,
enrolei ela no saco,
aí, eu gritei meu velho:
corre
velho, corre
velho! Ei? Corre meu
velho, corre velho, pegar o
fiotinho da onça gritando
aqui e a
onçinha miando, quele
achou que era onça
devera, porque tinha onça
lá.
E aí, meu
velho veio com o
facão, rap, pap, rap,
cadê mulher? E a minininha
tá ué, ué, ué,
e é o
meu velho, deixa diabo!
Qualé bicha? Quando meu velho
foi chegando, cadê velha?
Falei aqui, a
minininha enroladinha no
saco, meu velho, que
a onça criou mais que
eu.
Ô minha Nossa
Senhora, e agora, comé
que, ô velha, comé
que nós vão imbora?
Nós vão
imbora, velho, do mesmo
jeito que nós veio,
nós vai, eu vou
levar minha minina,
piqui eu num
vou levar, vou levar
minha minina.
E vim cum
a minininha enroladinha,
vamo imbora que nós
vão topar cum gente na
estrada.
Eu falei, pode
seguir na frente, queu
sigo atrás, Não velha,
mas ocê caminha devagar.
Não velho, se
quer saber, deixa eu
passar na frente qui
ocê quer caminhar devagar
e eu
num quero.Vim
cum a minininha, ô
gente, a distância desse
piquizeiro é como daqui a
Jenipapo, e eu
truxe a minha minina
e hoje em dia
ela é mãe de filha
e é vó de
neto, a
minina dela já
tem filho.
Eu não, uai,
ocê num já ouviu
dizer que pra pirigo
tem que ter corage,
eu tenho corage,
porque se a
gente esmurecer, fica pior
pra gente, intão pega com
Deus e Nossa Senhora,
boa guia da
gente e vamo junto.
Lori
Figueiró
Nossa, em frente a tantas cesarianas da vida contemporânea, esta descrição parece ficcção.
ResponderExcluirÊta D. Aruina!