Ilídia Batista Lopes
Encontrei D.Ilídia, como sempre a encontro, rezando a sua missa
em frente à televisão. Ela recebeu o
meu abraço e acenou para que
eu me sentasse na cama. Fiquei ouvindo
a liturgia e as suas orações.
Ao final da missa, ainda com o terço
na mão ela me disse:
Num é que
a velha tá cada
dia mais bonita, graças
a Deus!
Ontem, meu
filho, eu acordei manqueba,
cheia de dor nas
perna
e nas cadeira,
um sofrimento, tudo
rangendo e eu escorando
pra
tudo que é
canto. Insisti, nada, aí bebi minha
água benta e pedi
a
meu pai e
a Nossa Senhora, nossa
mãe e mãe dele,
que me ajudasse
e deitei de
novo e ferrei no
sono. Num é que
quando eu acordei, eu
já tava bem
melhor. Eu falo mesmo,
se não fosse essas
dor nas pernas,
mas José, meu
filho, num deixa de
me alembrar: ô mãe,
num esquece,
a senhora num
é mais menina mãe,
a senhora já tá
berando cem,
o que mais
que a senhora quer,
num é assim não,
como a senhora
quer. E eu
sei, meu filho, eu
falo mesmo pra ele,
eu só queria, nem
que fosse de
vez em quando, capinar
o quintal pra num
deixar o mato
tomando conta,
mas Deus e Nossa
Senhora, minha mãe, é que
sabe e eu
cá só tenho
que obedecer, num é
mesmo, ocê num pensa
como eu?
Mas, vendo, olha só, num
é que a velha
tá cada vez mais
bonita?
Num é mesmo,
ocê num acha? Ou
é só estas máquina
de tirar retrato
que deixa a
gente assim? Conta pra
mim...
Recordando, declamei para D. Ilídia,
“Encomenda” de Cecília Meireles.
Desejo uma fotografia
Como esta – o senhor vê – como
esta:
Em que para sempre me ria
Como um vestido de eterna festa.
Como tenho a testa sombria,
Derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga que me empresta
Um certo ar de sabedoria.
Não meta fundos de floresta
Nem de arbitrária fantasia...
Não... nesse espaço que ainda resta
Ponha uma cadeira vazia.
Me despedindo, falei do quanto eu
admirava a sua sabedoria,
lembramos juntos:Veja-me só
que elegância, em que
ponto eu hoje estou,
a sua determinação, o seu prazer para
com a vida e a sua vitalidade.
Agradecida, ela me disse que todas as
noites, com o meu terço nas mãos,
presente que eu dei a ela, ela reza
pedindo a Deus para acompanhar os meus passos.
Lori Figueiró
D. Ilídia!
ResponderExcluirA memória viva nas pessoas enquanto vivem, maravilha!