domingo, 7 de abril de 2013

Janelas revisitadas; D. Ilídia, Deus e Nossa Senhora, minha mãe, é que sabe e eu cá só tenho que obedecer.


Ilídia Batista Lopes

















Encontrei D.Ilídia, como sempre a encontro, rezando a sua missa
em frente à televisão. Ela recebeu o meu abraço e acenou para que
eu me sentasse na cama. Fiquei ouvindo a liturgia e as suas orações.
Ao final da missa, ainda com o terço na mão ela me disse:

Num é que a velha cada dia mais bonita, graças a Deus!
Ontem, meu filho, eu acordei manqueba, cheia de dor nas perna
e nas cadeira, um sofrimento, tudo rangendo e eu escorando pra
tudo que é canto. Insisti, nada, aí bebi minha água benta e pedi a
meu pai e a Nossa Senhora, nossa mãe e mãe dele, que me ajudasse
e deitei de novo e ferrei no sono. Num é que quando eu acordei, eu
tava bem melhor. Eu falo mesmo, se não fosse essas dor nas pernas,
mas José, meu filho, num deixa de me alembrar: ô mãe, num esquece,
a senhora num é mais menina mãe, a senhora berando cem,
o que mais que a senhora quer, num é assim não, como a senhora
quer. E eu sei, meu filho, eu falo mesmo pra ele, eu queria, nem
que fosse de vez em quando, capinar o quintal pra num deixar o mato
tomando conta, mas Deus e Nossa Senhora, minha mãe, é que sabe e eu
tenho que obedecer, num é mesmo, ocê num pensa como eu?
Mas, vendo, olha só, num é que a velha cada vez mais bonita?
Num é mesmo, ocê num acha? Ou é estas máquina de tirar retrato
que deixa a gente assim? Conta pra mim...

Recordando, declamei para D. Ilídia, “Encomenda” de Cecília Meireles.

Desejo uma fotografia
Como esta – o senhor vê – como esta:
Em que para sempre me ria
Como um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
Derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga que me empresta
Um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta
Nem de arbitrária fantasia...
Não... nesse espaço que ainda resta
Ponha uma cadeira vazia.

Me despedindo, falei do quanto eu admirava a sua sabedoria,
lembramos juntos:Veja-me que elegância, em que ponto eu hoje estou,
a sua determinação, o seu prazer para com a vida e a sua vitalidade.
Agradecida, ela me disse que todas as noites, com o meu terço nas mãos,
presente que eu dei a ela, ela reza pedindo a Deus para acompanhar os meus passos.

                                                                                                          Lori Figueiró


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