quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Recebedoras de vidas, abençoadas com o sonho de Nossa Senhora.


 
Felicina Cardoso Pereira

 
Iracema Silva Ferreira
e o esposo
José Pereira dos Santos

 
Almerinda Ferreira Nascimento

 
Auxiliadora Alves Martins

 
Maria Ribeiro dos Santos
 

Maria Francisca Pereira




 
Ilda Ferreira Franco e a bisneta
Lara Jardim Oliveira

 
Angela Maria Dias

 
Maria Aparecida de Jesus


Maria Caldeira dos Santos

Maria Barbosa dos Santos
e o esposo
José Ferreira dos Santos








 


No período de 21 a 25 de janeiro e nos dias 04 a 07 de fevereiro,
em Coronel Murta e nos povoados de Lagoeiros, Barra e Ouro Fino,
tive a alegria e o prazer em conhecer, conversar e registrar algumas parteiras,
muitas delas, além de benzedeiras e raizeiras, fizeram os seus próprios partos.
Dias depois, em Ribeirão do Bosque, D. Rosa, com seus 94 anos,
como a grande maioria delas, me confidenciou:
nós nenhuma somos parteiras, parteira é Nossa Senhora.
Abençoadas com o sonho de Nossa Senhora,
são Marias, Margaridas, são Auxiliadoras.
Recebedoras de vidas, são mães de umbigo,
são mães de leite, são avós, madrinhas,
são mães por adoção, são mães de cria.
São Geraldas, como mãe Gera, em Jenipapo de Minas.
São Santas, são senhoras e donas, são Aparecidas.
São Carmelitas, generosas, sempre que solicitadas,
são zelosas com o compromisso de ajudar,
proporcionar conforto e salvar vidas.
Benzedeiras e raizeiras, são fiandeiras,
como na oração para parturientes de Sr. José de Anelino:
Ô Jesus, vai buscar Maria,
uma para fiar, ( a linha )
outra para costurar, ( o umbigo )
e a outra para tratar de dor de barriga.
Crentes e fervorosas, são devotas
de Nossa Senhora, que são muitas
e a única que é a mãe de Deus, Nosso Senhor.
Mas é necessário a fé, porque sem ela, não há salvação,
nem milagre, assim como na oração de
Nossa Senhora de Mont'Serrat,
Rogai por nós Santa formosa dos anjos,
tesouro dos apóstolos, depósito do arco da aliança,
Senhora Santa Maria, mostrai-nos tão belo dia
vossa face gloriosa.

                                                                                            Lori Figueiró
                 



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Com D. Gera, mãe Gera, visitando algumas parteiras do município de Jenipapo de Minas.

  
Geralda Martins Soares,
mãe Gera.

Rita de Souza Gomes


Corina Esteves Nunes


Maria Carmelita Lopes Barbosa








 














 
Maria Antonia Esteves Santos


Jovelina Batista Nunes















Santa Nunes Silva

Nedir Moreira Ramos










 


Em companhia de D. Gera, mãe Gera, e de Claudiana, na terça-feira de carnaval
e quarta-feira de cinzas, percorremos mais de 150 kms das estradas de Jenipapo de Minas,
para visitarmos algumas parteiras do município. Em Santo Antonio, ainda bem cedinho,
D. Rita, nos recebeu com o seu sorriso farto, sua prosa sem medida e um delicioso minguau
de milho verde. Em Lagoa Grande, D. Corina, distribuiu afetos, mudas de chã e medicamentos caseiros e enquanto mãe Gera e Claudina almoçavam com ela os pertences de um porco
abatido a poucos dias, eu e seu neto Pedro, preferimos saborear uma variedade de mangas
no fundo do quintal. Mais a tarde, sem a companhia de mãe Gera, tinhamos que percorrer
uma longa distância a pé, que a sua idade e saúde já não permite, nos encontramos com
D. Jovelina. Desde que eu a conheci, tenho por ela uma admiração profunda, por sua força
e se jeito agreste de ser. Ao final da tarde, depois de uma quantidade sem fim de confidências,
indagações e carinhos compartilhados com D. Carmelita e D. Antoninha, e a promessa
de novos reencontros, ficamos para o pernoite na casa de D. Antoninha. Na cozinha,
enquanto preparava o jantar com os legumes e verduras colhidos na própria horta, a
anfitriã foi relatando a vida dedicada aos partos e a sua fé e devoção às bençãos aprendidas
com o pai, tudo com a intenção de ajudar os seus semelhantes. Após o jantar, sentado no
batente do portal da sala ouvindo os barulhos do silêncio e contemplando um céu permeado
de estrelas, D. Antoninha me serviu um chá de hortelã, para ocê dormir direitinho e em paz,
meu filho. Na manhã do dia seguinte, mesmo com toda intenção, não tivemos a alegria
de nos encontrarmos com D. Maria da Penha e D. Zeca em Estiva. D. Maria da Penha
estava para Belo Horizonte acompanhando uma amiga para um tratamento médico e
D. Zeca estava com D. Gerinha, levando a Eucaristia aos enfermos impossibilitados de
freguentar a igreja. Mas, não deixando por menos, D. Santa, nos recebeu com seu sorriso
e doçura contagiante, e ainda confirmando a fama de doceira e quitandeira de mão cheia.
nos serviu saborosas quitandinhas e um cafezinho coado na hora. E encerrando a nossa programação de visitas, em Palmital, fomos calorosamente recebidos por Nedir e sua família. Nedir, provavelmente a parteira mais jovem da região, em um dos seus partos, como ela
mesma fez questão de dizer, teve a honra de ter mãe Gera como sua acompanhante.
Na volta para Jenipapo de Minas, entre uma conversa e outra e refletindo sobre a grandeza
destas mulheres repletas de generosidade, de amor e disponibilidade para servir e ajudar
seus semelhantes, mãe Gera me confessou:

Lori, todas essas mulher, como diz, queu passei nas casa delas, elas todas tão salvas,
todo mundo vivo, graças ao meu bom Deus, as mulher pode ter morrido, não dessas
coisas, parto... Não tenho como agradecer a Deus uma graça dessa, né? Agora você
vê Lori, uma mulher que nem eu, analfabeta, não tem leitura, não tem nada, e graças
a Deus, passar umas coisas assim tão complicada, e graças a Deus num perde nem
mãe nem filho, num tem jeito, só pode ser uma graça, eu me sinto muito feliz com
isso, honrada mesmo, quando eu alembro disso, Lori, o que eu tenho é agradecer
a Deus mais ainda, né? Oh, meu Deus! É uma graça recebida, Lori, queu recebi
nessa minha vida, nesse fim de vida, setenta e dois ano, uma graça recebida e
queu não tenho como agradecer a Deus.


                                                                                               Lori Figueiró

Baranda, "elas vestiam é igual eu, toda vida eu visto comprido, é o sistema."



Blandina Silva Souza e
Aline Aparecida Gomes
Ruas Santos























Na tarde de sexta-feira, primeiro de fevereiro, em Araçuaí, depois de uma visita a D. Zefa,
e ciceroneado por Diêgo Alves e Aline Ruas Santos, tive o prazer e a alegria em conhecer
D. Baranda, com seus 93 anos e uma vitalidade contagiante, que entre tantos outros dons,
é benzedeira, batuqueira e foliã. Com seu coração generoso e afetuoso, D. Baranda
recordou e narrou acontecimentos e afazeres, suas crenças e a fé em São Sebastião,
as danças de roda e o nove, os versos e as cantigas de Pastorinhas e Folia de Reis,
as rezas e benzeções aprendidas com os pais e avós, além de descrever a sua convivência
com os Trovadores do Vale e com a sua madrinha de crisma, Lira Marques. Depois de benzer
Aline, a pedido da mesma, estou precisando, Baranda, da sua força e da proteção das
suas orações e do seu coração, D. Baranda, entre narrativas e outras cantigas, cantou
para nós uns versinhos das Pastorinhas.

E as Folias de Reis, Baranda ?
A Folias de Reis...
Eu sei muitas música, mas num confuso, né, as música assim...
Agora nós cantava também lá, lá era muito, em Medina,
depois num usava mais, era Pastorinha.
Cantava música de Pastorinhas?
É pastorinha, a Pastorinha aqui no meu tempo aqui, não mexo mais.
Como que era as Pastorinhas?
Pastorinha...
Aqui antigamente assim, ocê nunca viu, viu?
Era as mulher, as mulher que fazia
aquele tanto de moça, vestida, fantasiada
umas batendo pandeiro, outras batendo... quadrilha...
e elas cantava:

Eu cheguei na vossa casa
por aqui viemos cantar
acordar quem está dormindo
que viemos festejar

Os servos do oriente
são pobres, não tem dinheiro
vai forrar o céu inteiro
com folha de canoeiro

Vósmece dono da casa
abra a porta, acenda a luz
recebeis com alegria
o senhor do oriente.

Nos cantava e oferecia, agradecia.
E como é que elas vestiam, era colorido, como é que era?
Elas vestiam é igual eu, toda vida eu visto comprido,
é o sistema, toda vida era comprido.
E as Pastorinhas era igual, então?
Tudo comprido, roupa de babado, comprido, cigano...
Canta mais um pouquinho das Pastorinhas pra nós.
Vou cantar outro.

O cantar do galo
nasceu Jesus em Belém
nasceu o nosso Deus
que nasceu pra nosso bem

O cantar do galo
nasceu Jesus em Belém
nasceu o nosso Deus
que nasceu pra nosso bem

Vamos, vamos Pastorinha
vamos todos em Belém
vamos ver se nós alcança
entrada do novo ano

O cantar do galo
nasceu Jesus em Belém
nasceu o nosso Deus
que nasceu pra nosso bem

O cantar do galo
nasceu Jesus em Belém
nasceu o nosso Deus
que nasceu pra nosso bem

Deus lhe pague pela esmola
Deus que muito que
que na terra sofrendo
e no céu a salvação.

O cantar do galo
nasceu Jesus em Belém
nasceu o nosso Deus
que nasceu pra nosso bem

É pastorinha...


                                                                                             Lori Figueiró


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Sr. José Martins, "aquele trovãozão vindo de cá, ele faz assim, dum, dum , dum!"




José Martins Santana

























O senhor me falou aquele negócio da chuva, do trovão, o senhor pode repetir para mim?
Do trovão? É assim. Mês de outubro, antão, mês de outubro, faz aquela puagem, e
naquela puagem que faz, usa dar um trovão assim abalado, aquele trovãozão vindo
de cá, ele faz assim, dum, dum, dum! Antão, o que qui acontece, é aquilo qui acorda
a terra, o senhor sabia disso? Eu falei cum um velho outro dia, e ele falou assim,
deixa disso, isso num é. Eu falei, é, é isso mesmo que eu tava dizendo. Se num tiver
esse trovão, a gente planta, mas num sai, a plantinha fica fraca, a terra num acordou,
pra puder pegar aquela sustância, aquele embalo, né? Às vezes a gente fala, e as
pessoa fala é caso de carocha, Mas num é, num presta atenção. Presta atenção no ano
qui num ele, se sai alguma coisa, sai, mas sai fraco. Antão o mistério é esse, muita
gente num presta atenção no que qui é qui funcionando, mas a gente que mais
velho, eu cum setenta três ano, antão vivi muito, antão muitas coisa eu sei.
Será possível que num entende, uai, eu acho difícil num entender, né?
José de que?
José Martins Santana.
Quantos filhos Sr, José?
Queu pussui?
É.
É três, Fernando, José Batista, Vanda.
Quantos netos?
Netos três, três não, quatro. Quatro netinha, Delaide e Camile e Amanda e Rafaela.
Rafaela é a caçula.
Maravilha!
Ela cum, cum nove meses Rafaela, as outras tudo moça já.
Quantos anos de casado?
Di casado cum cinguenta ano.
Já fez bodas de ouro!
uai, graças a Deus . E eu falo a verdade, cumendo água cum minha velha ainda
e num tem nada qui faz eu trocar aquilo não, aquela sede num disbota não.
Como é que ela chama?
Maria de Lourde qui é o nome dela.
Muito bom!
Pois é, graças a Deus. O senhor conhece o Padre José, né? O Padre José fez o
casamento meu e voltou para trás e fez o casamento de dois filho meu. Agora o
derradeiro, esse daí num quis casar não, ele arrumou uma paraibana, pera aí,
não paraibana não, uma alagoana em São Paulo e pegou amarrrou os pano dele
mais dela e lá, tem quatro ano que mais junto cum ela, eu virei e falei  assim,
um respeitando o outro é qui importa, isso aí, num é isso de casar que faz vida não.
E da terra é o que eu disse mesmo, é aquilo mesmo queu falei, é aquilo mesmo.
Muita vez a pessoa num presta atenção, mas qui ixiste, ixiste, no ano qui num acontece,
a prova taí, a lavoura num próspera que presta.
O senhor gosta de plantar?
Que isso, o dia se for o caso queu cair numa situação queu não puder mais trabalhar,
eu vou morrer mais ligeiro. Até hoje, até hoje eu trabalho, num faço serviço assim
desajeirado não, eu mum faço não, mas também o que tocar para fazer também a gente
faz, tem disso não, sofri moço, sofri, trabalhei, passei fome... passei fome,
trabalhei qui nem um condenado, mas graças a Deus nunca roubei de ninguém, nunca
dei prejuízo ninguém, e meu nome, graças a Deus o meu nome é limpo, todo canto
queu quiser comprar eu compro e sem dinheiro e recebo sem dineiro e pago tudo e boa.
Intão é isso qui eu tenho pra puder contar.


A conversa acima aconteceu no entardecer do sábado de carnaval, caminhando pelo
Capoeirão com os jovens do Projeto Olhares em Foco, em Carbonita. Assim que nos
encontramos, conversamos sobre a beleza do entardecer, o céu de um azul intenso,
a luz clarinha parecendo um véu, como sr. José fez questão de repetir mais de uma vez,
mas também comentou a escassez de chuvas. Um ano, moço, cum pouca chuva e ainda
fartou o trovão do inicio das águas. Recordando de sr. Bernardino lá em Ribeirão de Areia,
liguei o meu gravador e pedi a ele que me repetisse aquele negócio do trovão, e ele ainda
me contou muito mais.


                                                                                                                  Lori Figueiró




               Fotografias de  
               Vinícius Macedo Araujo




sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Em Pachecos, D. Maria de Zé Caboje e os ofícios de ser parteira, benzedeira e raizeira.

















Maria Barbosa Santos e
José Ferreira dos Santos







































Na comunidade de Pachecos, na barra do Rio Salinas, divisa dos municípios
de Coronel Murta e Virgem da Lapa, na manhã de quinta-feira, me encontrei
com D. Maria Barbosa Santos, conhecida como Maria de Zé Caboje, alcunha
que seu marido Sr. José Ferreira dos Santos herdou de seu avô.
Já D. Maria, adquiriu da mãe, Josefa Maria de Jesus, além do ofício de ser parteira,
a disposição e o compromisso em ajudar os seus semelhantes. Com 75 anos e
sofrendo com as dores do reumatismo, ainda assim, quando solicitada, não mede
esforços para preparar ou ensinar os seus medicamentos caseiros e proporcionar 
o conforto com as suas bençãos e orações.
Quando perguntei a ela qual oração ela fazia na hora dos partos, ela me respondeu:

Fazia muitas oração, fazia oração de Nossa Senhora de Mont"Serrat,
Nossa Senhora do Socorro, tudo quanto é santo eu fazia, minha
Santa Margarida, o senhor me desculpa, minha Santa Margarida
é a primeira Santa que eu lembrava, era essa daí, ela me valia, é.
Eu falava, minha Santa Margarida me dá suas mãos, comparação,
o senhor desculpa, nem tá prenha e nem tá parida, ela me dava aquela
força, eu recebia na hora, é, graças a Deus, é.
Tem muitos santos que eu pegava. A hora que eu entrava ali eu lembrava
dos santos tudo, o senhor sabe, nós que é católico alembra de tudo quanto
é santo da parte de Deus, graças a Deus!

Pedi a ela que me falasse um pouco mais de Santa Margarida, e ela:

Minha Santa Margarida me sua mão
ela nem prenha nem está parida.
Com os poder de Deus e da Virgem Maria.
A hora que Deus ajuda que ela ganhava,
ficava boa, eu tornava falar,
Minha Santa Margarida, graças a Deus
ela nem prenha, está parida.
Com os poder de Deus e Nossa Senhora, amém!

E os poder é de Deus mesmo.
Se Deus querer, nós está, se ele não querer, num é, é...
eu falava, o senhor gostou deu falar?
Pois é, é assim que eu falava, é...
Mas de toda vida minha é, mãe sabe,
é uma oração que a gente reza, é...
Eu tinha essa oração, minha mãe levou, morreu.
Eu não sei pondé que foi,
eu tinha essa oração guardada.
Guardei na memória,
Até hoje eu sei como ela falava tudo, é...
Eu não sei leitura pra eu puder olhar, né,
intão, os filhos sabe,
mas eu guardo na cabeça, é.

Um pouco mais tarde, me despedi de D. Maria, encantado e emocionado com
o seu coração generoso, com a sua fé, com o seu zelo para com o marido, netos,
filhos e filhos de criação, e com a sua alegria, disponibilidade e entusiasmo para
com a vida, mesmo queixando muitas dores e incomodada por depender das mãos
dos outros.


                                                                                                               Lori Figueiró 



D. Maria das Graças, "a reza é o alimento da nossa alma."



Mutuca, comunidade de Coronel Murta, manhã de terça-feira.
Encontrei D. Maria das Graças benzendo de cobreiro sua neta Mirella.
Os cumprimentos no terreiro da sua casa. Na cozinha, depois do café servido
enquanto preparava o almoço, arroz com pequi, quiabo e o feijão com torresmo,
ela foi rememorando a infância, a convivência com os avós, com os pais e o padrinho.
Naquele tempo, seu Lori, eu e meus irmão, nós tudo menino,
nós não pudia conversar com pessoa assim da sua cor, clarim...
o trabalho na roça de sol a sol, até mesmo nas águas, o senhor vendo,
mas graças a Deus, nosso pai e a minha mãe, coitada, criou nós tudo
na exatidão, como os pais deles criou eles, tudo no correto, na honestidão.
Lembro muito daquele tempo, nós tudo arreunido... num volta nunca mais...
Um longo silêncio... liguei novamente a minha câmara e perguntei:
D. Maria quando a senhora vai benzer de cobreiro como é que a senhora fala?

O senhor sabe,
A reza é o alimento da nossa alma.
Sem Deus nós num pode dar um passo.

Reza Pai Nosso, começa com Pai Nosso,
Ave Maria e Santa Maria. E fala:

Lorença, infância, buriti.
Passei a cabeça e o cabo do bicho,
cortei e matei.

Fala três vezes. Lorença...
Reza Ave Maria e Santa Maria.
Repete:

Lorença, infância, buriti.
Passei a cabeça e o cabo do bicho,
cortei e matei.

E pronto. Se a pessoa tiver fé,
com três dia o cobreiro acabou.
E a senhora precisa rezar três vezes?
Melhor três sexta-feira ou quarta.
E a senhora aprendeu a rezar com quem?
Com meu pai, meu padrim me ensinou.
Meu pai era benzedor, sabia tudo que era benzenção, ele sabia.
Graças a Deus nós aprendeu com ele.
Nós aprende com as pessoa mais velha, né?
Os antigo gostava muito de rezar.
Hoje em dia o povo novato não gosta muito de rezar.

Registrando D. Maria das Graças falar as suas palavras, me veio a lembrança de D. Maria Brauna,
benzendeira amiga da minha mãe, curandeira da minha infância e da infância de meus
irmãos, e me lembrei ainda de seu único dente, um canino onde ela travava um pedaço
de fumo e passava horas mascando aquele pedaço de fumo enquanto nos contava estórias
de assombrações, narradas muitas vezes enquanto ensaboava ou passava com ferro de brasa
a nossa roupa.

E como bem disse D. Maria das Graças,
Lembro muito daquele tempo... num volta nunca mais...


                                                                                                                           Lori Figueiró







D. Luzia Gonçalves poetando fé e orações.



Luzia Gonçalves da Silva














Em Abadia, comunidade de Carbonita, enquanto D. Luzia me confessava a sua
devoção a Nossa Senhora da Abadia e a força das suas palavras, eu meu filho,
falo as palavras, quem cura é Deus e a fé, é preciso ter fé, sem a fé, não acontece
a cura, Deus deseja e eu sou sua serva, mas a pessoa precisa ter fé, acreditar.
Assim fui recordando o velho Rosa narrando uma das passagens de Riobaldo
pelas terras do sertão: na pessoa dele, Diadorim, vi foi a imagem tão formosa
da minha Nossa Senhora da Abadia, e mais o realce de alguma coisa que o
entender da gente por si não alcança.
Contemplando a luz em seus olhos, fui ouvindo D. Luzia:
Eu meu filho, o senhor pode acreditar, eu acredito demais em milagre, ele existe, existe...
tem que ter muita fé porque eu já recebi muitos milagres, num tá vendo o queu te contei.
Este menino aí, estava lá entre a vida e a morte, longe de mim, e tá todo mundo
aí como eu pedi, como eu pedi o Divino Pai Eterno e a Nossa Senhora da Abadia
e também a Nossa Senhora do Perpétuo-Socorro, que eu pedi ajoelhada lá...
rezando... rezando e pedindo eles, e graças a Deus, ele tá aí como ocê tá vendo.
Entre um assunto e outro, perguntei a D. Luzia sobre as suas orações e as bençãos
que ela consentia.

Eu, meu filho, sei benzer de tantos males, cobreiro, mau-olhado, quebrando,
espinhela caída, zipa, sol na cabeça... bicho peçonhento...
Recordando de Sr. Bernardino, em Ribeirão de Areia, indaguei se ela benzia
para curar picada de cobra e para tirar cobra de terreno.
Sei sim, meu filho, quando ainda havia muita cobra, eu benzia assim:
bicho peçonhento                                                                                                                                               
ocê não ofendeu ( e falava o nome da pessoa ou criatura )
ocê ofendeu o solado do sapato
do padre Frei Clemente de Jesus.
Com fé em Senhor São Bento,
seu veneno não vale nada.
E aí eu rezava um Pai Nosso e uma Ave Maria
para o Senhor São Bento, a divindade do brejo de Roma
e as três pessoas da Santíssima Trindade.

Benzo de engasgo também, o senhor quer ouvir?
Engasgo é assim, o senhor manda a pessoa virar de costa assim,
e vai fazendo cruz nas costa dele, e fala:
Casa de homem bão, mulher ruim,
casa suja, esteira de palha rasgada,
pra onde onde este mau entrou
praí ele não sai.
Fala três vezes e reza um Pai Nosso e uma Ave Maria
para senhor São Brás.
O senhor pode acreditar, não tem engasgado que
não desengasga, com em Senhor Deus.

Meu padrim que me ensinou, ele morreu com noventa e tantos anos,
é meu segundo pai, me ensinou tudo, tudo!
E as benzeção que eu faço de mau-olhado e de espinhela caída é no copo com água.
Vou ensinar pro senhor, é assim:
O senhor reza primeiro Maria Concebida, três Maria Concebida.
Depois o senhor pega três brasa e fala,
essa daqui é de mau-olhado, o senhor fala,
mau-olhado, foi dois quem pós, três quem tira
( quer dizer os dois olhos da pessoa )
eu te curo de mau-olhado com muita com as três pessoas da
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Agora joga outra ( dentro do copo e fala )
espinhela caída, foi dois quem pós, três quem tira
eu te curo de mau-olhado, espinhela caída com muita com as três pessoas da
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Depois na terceira brasa o senhor fala,
inveja, foi dois quem pós, três quem tira
eu te curo de mau-olhado, espinhela caída e inveja com muita com as três pessoas da
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Depois o senhor reza um Pai Nosso e uma Ave Maria para as três pessoas
da Santíssima Trindade e Nossa Senhora da Soledade.

Agradecido e emocionado, me despedi de D. Luzia, em companhia de Kênio, seu neto,
prometendo voltar o mais breve possível. Tínhamos como não podíamos esquecer, um
encontro com os meninos do Projeto olhares em Foco, no Córrego da Água Limpa para
um mergulho em suas águas.


                                                                                                                    Lori Figueiró


                                            Fotografia de Kênio José Silva Souza





quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

D. Zefa, "levo feito chefe sua serva Sandra."






























Em Araçuaí na primeira manhã de 2013, D. Zefa, Josefa Alves dos Reis
benzendo Sandrinha Nogueira.

Levo feito chefe sua serva Sandra,
com vossa santíssima cruz.
Deus te livre do mau olho e do mau-olhado
e de todo mau que te quiserem fazer.
Inimigos assim se forem ferros, eu sou alto
se forem demônios, eu embaraço.
Com grande nome de Deus Pai,
Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Sandra, Deus te fez e Deus te formou.
Deus te livre de todos os mau olhos que te olhou.
Levo feito chefe sua serva Sandra
com vossa santíssima cruz.
Deus te livre do mau olho e do mau-olhado
e de todo mau que te quizeram fazer.
Inimigos assim se forem ferros, eu sou alto
se forem demônios, eu embaraço.
Com grande nome de Deus Pai,
Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Afaste de Sandra todos os espíritos malignos,
inimigos eternos, vencido leão de Judas.
Aqui reina a cruz no poder eterno
sobre seus amigos, salve Santo Antonio!
Sandra, quando Deus andou no mundo,
foi arretirando todo ácido de dores quentes,
todo ácido de dores frias, dores de pontadas,
dores de chuchadas, reumatismo, incruzidades,
mau olho e macumbaria.
do corpo de Sandra sairá para as ondas do mar sagrado,
que a bença de Deus as cura.
Com o grande nome de Deus Pai,
Deus Filho, Deus Espírito Santo.
Afaste de Sandra toda energia ruim de seu corpo
para as ondas do mar sagrado,
que a bença de Deus as cura.
Com o grande nome de Deus Pai,
Deus Filho, Deus Espírito Santo.
Sandra, quando Deus andou no mundo,
foi arretirando todo ácido de dores quentes,
todo ácido de dores frias, dores de pontadas,
dores de chuchadas, reumatismo, incruzidades,
mau olho e macumbaria,
do corpo de Sandra sairá para as ondas do mar sagrado,
que a bença de Deus as cura.
Com o grande nome de Deus Pai,
Deus Filho, Deus Espírito Santo.
Sandra, Nosso Senhor Jesus Cristo disse:
tu com energia que aparece pela morte.
Sandra, vira a mão para trás e passe meu corpo,
assim como estas três palavras são ditas e certas,
de seu corpo sairá todo ácido de dores quentes
todo ácido de dores frias, dores de pontadas,
dores de chuchadas, reumatismo, incruzidades,
mau olho e macumbaria,
do corpo de Sandra sairá para as ondas do mar sagrado,
que a bença de Deus as cura.
Com o grande nome de Deus Pai,
Deus Filho, Deus Espírito Santo.

Agora eu vou fechar seu corpo com o Credo.
Em voz baixa, não posso falar alto.
E você reza uma Ave Maria e um Pai Nosso.
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Deus que te cure!
Você é uma rocha, não tem doença nenhuma!

Tem muitos benzedor, que ele benze apurando
o dinheiro que ele vai pegar da pessoa.
Conta as bonadices e vai rezar, reza com a mão.
Nunca vai aprovar que ele tirou a doença da pessoa,
que rezou com a mão.
O verdadeiro rezador, desde o começo do mundo,
é com o ramo na mão.
Eu tenho até na oração da Virgem Maria
que ela benzia com o raminho na mão,
porque a doença aparece no ramo.