Luzia Gonçalves da Silva
Em Abadia, comunidade
de Carbonita, enquanto D.
Luzia me confessava
a sua
devoção a Nossa
Senhora da Abadia
e a força das
suas palavras, eu
meu filho,
só falo
as palavras,
quem cura
é Deus
e a fé,
é preciso
ter fé,
sem a fé,
não acontece
a cura,
Deus deseja
e eu
sou sua
serva, mas
a pessoa
precisa ter
fé, acreditar.
Assim fui recordando
o velho Rosa narrando
uma das passagens
de Riobaldo
pelas terras do
sertão: na
pessoa dele,
Diadorim, vi
foi a imagem
tão formosa
da minha
Nossa Senhora
da Abadia,
e mais
o realce
de alguma
coisa que
o
entender da
gente por
si não
alcança.
Contemplando a luz em seus olhos, fui
ouvindo D. Luzia:
Eu meu filho, o senhor pode acreditar,
eu acredito demais em milagre, ele existe, existe...
tem que ter muita fé porque eu já recebi
muitos milagres, num tá vendo o queu te contei.
Este menino aí, estava lá entre a vida
e a morte, longe de mim, e tá todo mundo
aí como eu pedi, como eu pedi o Divino
Pai Eterno e a Nossa Senhora da Abadia
e também a Nossa Senhora do
Perpétuo-Socorro, que eu pedi ajoelhada lá...
rezando... rezando e pedindo eles, e
graças a Deus, ele tá aí como ocê tá vendo.
Entre um assunto e outro, perguntei a
D. Luzia sobre as suas orações e as bençãos
que ela consentia.
Eu, meu filho, sei benzer de tantos males,
cobreiro, mau-olhado, quebrando,
espinhela caída, zipa, sol na cabeça...
bicho peçonhento...
Recordando de Sr. Bernardino, em
Ribeirão de Areia, indaguei se ela benzia
para curar picada de cobra e para tirar
cobra de terreno.
Sei sim, meu filho, quando ainda havia
muita cobra, eu benzia assim:
bicho peçonhento
ocê não ofendeu ( e falava o nome da
pessoa ou criatura )
ocê ofendeu o solado do sapato
do padre Frei Clemente de Jesus.
Com fé em Senhor São Bento,
seu veneno não vale nada.
E aí eu rezava um Pai Nosso e uma Ave
Maria
para o Senhor São Bento, a divindade do
brejo de Roma
e as três pessoas da Santíssima
Trindade.
Benzo de engasgo também, o senhor quer
ouvir?
Engasgo é assim, o senhor manda a
pessoa virar de costa assim,
e vai fazendo cruz nas costa dele, e
fala:
Casa de homem bão, mulher ruim,
casa suja, esteira de palha rasgada,
pra onde onde este mau entrou
praí ele não sai.
Fala três
vezes e aí
reza um
Pai Nosso
e uma
Ave Maria
para senhor
São Brás.
O senhor
pode acreditar,
não tem
engasgado que
não desengasga,
com fé
em Senhor
Deus.
Meu padrim
que me
ensinou, ele
morreu com
noventa e tantos
anos,
é meu
segundo pai,
me ensinou
tudo, tudo!
E as
benzeção que
eu faço
de mau-olhado
e de
espinhela caída
é no
copo com
água.
Vou ensinar
pro senhor,
é assim:
O senhor
reza primeiro
Maria Concebida,
três Maria
Concebida.
Depois o senhor
pega três
brasa e fala,
essa daqui
é de
mau-olhado, o senhor
fala,
mau-olhado, foi
dois quem
pós, três
quem tira
( quer
dizer os
dois olhos
da pessoa
)
eu te
curo de
mau-olhado com
muita fé
com as
três pessoas
da
Santíssima Trindade,
Pai, Filho
e Espírito
Santo.
Agora joga
outra ( dentro
do copo
e fala
)
espinhela caída,
foi dois
quem pós,
três quem
tira
eu te
curo de
mau-olhado, espinhela
caída com
muita fé
com as
três pessoas
da
Santíssima Trindade,
Pai, Filho
e Espírito
Santo.
Depois na
terceira brasa
o senhor
fala,
inveja, foi
dois quem
pós, três
quem tira
eu te
curo de
mau-olhado, espinhela
caída e inveja
com muita
fé com
as três
pessoas da
Santíssima Trindade,
Pai, Filho
e Espírito
Santo.
Depois o senhor
reza um
Pai Nosso
e uma
Ave Maria
para as
três pessoas
da Santíssima
Trindade e Nossa
Senhora da
Soledade.
Agradecido e emocionado,
me despedi de D.
Luzia, em companhia de Kênio, seu neto,
prometendo voltar o
mais breve possível.
Tínhamos como não
podíamos esquecer,
um
encontro com os
meninos do Projeto
olhares em Foco,
no Córrego da Água
Limpa para
um mergulho em suas águas.
São Brás e São Bento, no Centro-Oeste de Minas D. Bia, com seu galho na mão ia abrindo clareiras para passear pelo mato.
ResponderExcluirSeu trabalho Lori, vem nos lembrar a força dos Saberes Populares. Boa sorte sempre!