domingo, 10 de fevereiro de 2013

Sr. José Martins, "aquele trovãozão vindo de cá, ele faz assim, dum, dum , dum!"




José Martins Santana

























O senhor me falou aquele negócio da chuva, do trovão, o senhor pode repetir para mim?
Do trovão? É assim. Mês de outubro, antão, mês de outubro, faz aquela puagem, e
naquela puagem que faz, usa dar um trovão assim abalado, aquele trovãozão vindo
de cá, ele faz assim, dum, dum, dum! Antão, o que qui acontece, é aquilo qui acorda
a terra, o senhor sabia disso? Eu falei cum um velho outro dia, e ele falou assim,
deixa disso, isso num é. Eu falei, é, é isso mesmo que eu tava dizendo. Se num tiver
esse trovão, a gente planta, mas num sai, a plantinha fica fraca, a terra num acordou,
pra puder pegar aquela sustância, aquele embalo, né? Às vezes a gente fala, e as
pessoa fala é caso de carocha, Mas num é, num presta atenção. Presta atenção no ano
qui num ele, se sai alguma coisa, sai, mas sai fraco. Antão o mistério é esse, muita
gente num presta atenção no que qui é qui funcionando, mas a gente que mais
velho, eu cum setenta três ano, antão vivi muito, antão muitas coisa eu sei.
Será possível que num entende, uai, eu acho difícil num entender, né?
José de que?
José Martins Santana.
Quantos filhos Sr, José?
Queu pussui?
É.
É três, Fernando, José Batista, Vanda.
Quantos netos?
Netos três, três não, quatro. Quatro netinha, Delaide e Camile e Amanda e Rafaela.
Rafaela é a caçula.
Maravilha!
Ela cum, cum nove meses Rafaela, as outras tudo moça já.
Quantos anos de casado?
Di casado cum cinguenta ano.
Já fez bodas de ouro!
uai, graças a Deus . E eu falo a verdade, cumendo água cum minha velha ainda
e num tem nada qui faz eu trocar aquilo não, aquela sede num disbota não.
Como é que ela chama?
Maria de Lourde qui é o nome dela.
Muito bom!
Pois é, graças a Deus. O senhor conhece o Padre José, né? O Padre José fez o
casamento meu e voltou para trás e fez o casamento de dois filho meu. Agora o
derradeiro, esse daí num quis casar não, ele arrumou uma paraibana, pera aí,
não paraibana não, uma alagoana em São Paulo e pegou amarrrou os pano dele
mais dela e lá, tem quatro ano que mais junto cum ela, eu virei e falei  assim,
um respeitando o outro é qui importa, isso aí, num é isso de casar que faz vida não.
E da terra é o que eu disse mesmo, é aquilo mesmo queu falei, é aquilo mesmo.
Muita vez a pessoa num presta atenção, mas qui ixiste, ixiste, no ano qui num acontece,
a prova taí, a lavoura num próspera que presta.
O senhor gosta de plantar?
Que isso, o dia se for o caso queu cair numa situação queu não puder mais trabalhar,
eu vou morrer mais ligeiro. Até hoje, até hoje eu trabalho, num faço serviço assim
desajeirado não, eu mum faço não, mas também o que tocar para fazer também a gente
faz, tem disso não, sofri moço, sofri, trabalhei, passei fome... passei fome,
trabalhei qui nem um condenado, mas graças a Deus nunca roubei de ninguém, nunca
dei prejuízo ninguém, e meu nome, graças a Deus o meu nome é limpo, todo canto
queu quiser comprar eu compro e sem dinheiro e recebo sem dineiro e pago tudo e boa.
Intão é isso qui eu tenho pra puder contar.


A conversa acima aconteceu no entardecer do sábado de carnaval, caminhando pelo
Capoeirão com os jovens do Projeto Olhares em Foco, em Carbonita. Assim que nos
encontramos, conversamos sobre a beleza do entardecer, o céu de um azul intenso,
a luz clarinha parecendo um véu, como sr. José fez questão de repetir mais de uma vez,
mas também comentou a escassez de chuvas. Um ano, moço, cum pouca chuva e ainda
fartou o trovão do inicio das águas. Recordando de sr. Bernardino lá em Ribeirão de Areia,
liguei o meu gravador e pedi a ele que me repetisse aquele negócio do trovão, e ele ainda
me contou muito mais.


                                                                                                                  Lori Figueiró




               Fotografias de  
               Vinícius Macedo Araujo




Um comentário:

  1. Na expressão alegre de Sr. José Martins Santana, o convite que a Natureza faz sábia e diariamente para a observação...

    ResponderExcluir