José Martins Santana
O senhor me falou aquele negócio da chuva, do trovão, o senhor pode repetir para mim?
Do trovão?
É assim.
Mês de
outubro, antão,
mês de
outubro, faz
aquela puagem,
e
naquela puagem
que faz,
usa dar
um trovão
assim abalado,
aquele trovãozão
vindo
de cá,
ele faz
assim, dum,
dum, dum!
Antão, o que
qui acontece,
é aquilo
qui acorda
a terra,
o senhor
sabia disso?
Eu falei
cum um
velho outro
dia, e ele
falou assim,
deixa disso,
isso num
é. Eu
falei, é,
é isso
mesmo que
eu tava
dizendo. Se
num tiver
esse trovão,
a gente
planta, mas
num sai,
a plantinha
fica fraca,
a terra
num acordou,
pra puder
pegar aquela
sustância, aquele
embalo, né?
Às vezes
a gente
fala, e as
pessoa fala
é caso
de carocha,
Mas num
é, num
presta atenção.
Presta atenção
no ano
qui num
dá ele,
se sai
alguma coisa,
sai, mas
sai fraco.
Antão o mistério
é esse,
muita
gente num
presta atenção
no que
qui é qui
tá funcionando,
mas a gente
que tá
mais
velho, eu
tô cum
setenta três ano, antão
já vivi
muito, antão
muitas coisa
eu sei.
Será possível
que num
entende, uai,
eu acho
difícil num
entender, né?
José de que?
José Martins
Santana.
Quantos filhos Sr,
José?
Queu pussui?
É.
É três,
Fernando, José
Batista, Vanda.
Quantos netos?
Netos só
três, três
não, quatro.
Quatro netinha,
Delaide e Camile
e Amanda
e Rafaela.
Rafaela é a
caçula.
Maravilha!
Ela tá
cum, tá
cum nove
meses Rafaela,
já as
outras tá
tudo moça
já.
Quantos anos de
casado?
Di casado
tá cum
cinguenta ano.
Já fez bodas
de ouro!
Já uai,
graças a Deus
. E eu
falo a verdade,
tô cumendo
água cum
minha velha
ainda
e num
tem nada
qui faz
eu trocar
aquilo não,
aquela sede
num disbota
não.
Como é que
ela chama?
Maria de
Lourde qui
é o nome
dela.
Muito bom!
Pois é,
graças a Deus.
O senhor
conhece o Padre
José, né?
O Padre
José fez
o
casamento meu
e voltou
para trás
e fez
o casamento
de dois
filho meu.
Agora o
derradeiro, esse
daí num
quis casar
não, ele
arrumou uma
paraibana, pera
aí,
não paraibana
não, uma
alagoana lá
em
São Paulo
e pegou
amarrrou os
pano dele
mais dela
e tá
lá, já
tem quatro ano
que tá
mais junto
cum ela,
aí eu
virei e falei assim,
um respeitando
o outro
é qui
importa, isso
aí, num
é isso
de casar
que faz
vida não.
E da
terra é o
que eu
disse mesmo,
é só
aquilo mesmo
queu falei,
é só
aquilo só
mesmo.
Muita vez
a pessoa
num presta
atenção, mas
qui ixiste,
ixiste, no
ano qui
num acontece,
a prova
taí, a lavoura
num próspera
que presta.
O senhor gosta
de plantar?
Que isso,
o dia
se for
o caso
queu cair
numa situação
queu não
puder mais
trabalhar,
aí eu
vou morrer
mais ligeiro.
Até hoje,
até hoje
eu trabalho,
num faço
serviço assim
desajeirado não,
eu mum
faço não,
mas também
o que
tocar para
fazer também
a gente
faz, tem
disso não,
já sofri
moço, já
sofri, já
trabalhei, já
passei fome...
já passei
fome,
trabalhei qui
nem um
condenado, mas
graças a Deus
nunca roubei
de ninguém,
nunca
dei prejuízo
ninguém, e meu
nome, graças
a Deus
o meu
nome é limpo,
todo canto
queu quiser
comprar eu
compro e sem
dinheiro e recebo
sem dineiro
e pago
tudo e boa.
Intão é isso
qui eu
tenho pra
puder contar.
A conversa acima
aconteceu no entardecer
do sábado de carnaval,
caminhando pelo
Capoeirão com os
jovens do Projeto Olhares
em Foco, em Carbonita.
Assim que nos
encontramos, conversamos
sobre a beleza do
entardecer, o céu
de um azul intenso,
a luz
clarinha parecendo
um véu, como
sr. José fez questão
de repetir mais de
uma vez,
mas também comentou
a escassez de chuvas.
Um ano,
moço, cum
pouca chuva
e ainda
fartou o trovão
do inicio
das águas. Recordando de sr. Bernardino lá em Ribeirão de Areia,
liguei o meu gravador e pedi a ele que me repetisse aquele negócio do trovão, e ele ainda
me contou muito mais.
liguei o meu gravador e pedi a ele que me repetisse aquele negócio do trovão, e ele ainda
me contou muito mais.
Lori Figueiró
Fotografias de
Vinícius Macedo Araujo
Vinícius Macedo Araujo
Na expressão alegre de Sr. José Martins Santana, o convite que a Natureza faz sábia e diariamente para a observação...
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