Joaquim Cardoso
Barbosa e Alzira Pereira de
Souza
D. Alzira e a mãe
Teodomira Francisca de Souza
Quando fui recebido, em
companhia de Silvano dos Santos, por Sr. Joaquim Cardoso,
na sua casa, em Sete
Canais, comunidade de Coronel Murta, refletia sobre o trabalho
exaustivo de
atribuir sentidos a tudo, como sentencia Bartolomeu Campos de
Queirós
em Vermelho Amargo,
reconhecendo ainda que dar sentido é tomar posse dos predicados.
Numa casa banhada pela
solidão e pela luz do cerrado, Sr. Joaquim Cardoso, delatando
prosas e sorrisos,
confidênciou: moço, quando a gente acomoda um pouco que seja,
numa madorna assim
pouguinha, a gente acaba assuntando umas coisas diferentes,
cismando com a vida
e ventania. Coisas de Deus e do mundo, nosso mundo grande
de meu Deus. E tudo
de conformidade, é, na conformidade e abundância, uma fartura
de tudo.
Palavras que traduziam a felicidade de estar comemorando com D.
Alzira
58 anos de casados, 8
filhos, 6 netos e 2 bisnetos frutos e presentes de Deus que é pai e
protetor, os
incomodos e as dúvidas com a eficácia de uma cirurgia de catarata
que
havia
se submetido a poucos dias, e a dor de se ver como o último
de uma linhagem de
8 irmãos e de pais
que se foram a muito. Sou o derradeiro seu moço, como Deus quis
e eu nos conforme.
A vida é assim, não devemos desesperar, de nada vale o desconsolo.
Hoje,
na proteção de Deus, moro aqui sozinho com Alzira, minha patroa,
cuidando
um do outro e da mãe dela. A coitada, uma pena, não dá cor de
quase
mais
nada, uma pena, foi perdendo o juízo de uns poucos tempo pra cá,
num
repente
só, também não é pra menos, ela é de 1911, cento e poucos ano,
muita vida.
E
eu, já vou caminhando os meu 83 ano e a filha dela já com 80, Deus
é pai.
Ao
cair da tarde, prometendo que a prosa regada a biscoito
de polvilho, bolo de fubá
e café fresquinho
seria retomada em breve, nos despedimos de Sr. Joaquim Cardoso e
D. Alzira por entre as
réstias de uma luz filtrada por um frondoso pé de Tamboril,
plantado
pelo anfitrião na
barra do córrego da Mumbuca, um dos sete canais, quando este ainda
correndo em águas
cristalinas e abundantes, desaguava no rio Salinas.
Na viagem de volta,
contemplando a beleza agreste de um cerrado castigado pela seca,
voltei às páginas de
Vermelho Amargo, trazendo para o mais íntimo de mim a tarde,
as tardes, com
essências inodoras de crepúsculos. na
certeza de que chamar pelo nome
o visível e o
invisível é respirar consciência,
Lori Figueiró