O Fotógrafo
Difícil fotografar o
silêncio.
Entretanto tentei. Eu
conto:
Madrugada a minha
aldeia estava morta.
Não se ouvia um
barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma
festa.
Eram quase quatro da
manhã.
Ia o Silêncio pela rua
carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um
carregador?
Estava carregando o
bêbado.
Fotografei esse
carregador.
Tive outras visões
naquela madrugada.
Preparei minha máquina
de novo.
Tinha um perfume de
jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na
existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência
dela.
Vi ainda um azul-perdão
no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem
velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar
o sobre.
Por fim eu enxerquei a
Nuvem de calça.
Representou para mim
que ela andava na aldeia de
braços com Maiakovski
– seu criador.
Fotografei a Nuvem
de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no
mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir
a sua noiva.
A foto saiu legal.
Manoel de Barros
Maria Silene Moreira Alves,
18 anos
Alessandra Guimarães Rodrigues,
17 anos
Alessandra Guimarães Rodrigues
Maria Silene Moreira Alves
Maria Silene Moreira Alves
Kenedy Leite Lisboa,
16 anos
Kenedy Leite Lisboa
Kenedy Leite Lisboa
Silene fotografando Alessandra e Kenedy
Encontro com Manoel Rabelo da Cruz,
fotografia de Alessandra Guimarães Rodrigues.
Enunciado
Agora não posso mais priscar na areia
quente
que nem os lambaris que escaparam do
anzol.
Não posso mais correr nas chuvas na
moda que
os bezerros correm.
Nem posso mais dar saltos-mortais nos
ventos.
Agora
Eu passo as minhas horas a brincar com
palavras.
Brinco de carnaval.
Hoje amarrei no rosto das palavras
minha máscara.
Faço o que posso.
Manoel de Barros
O menino de ontem me plange.
O menino de ontem me plange.
Manoel de Barros
Com Alessandra, Kenedy e Silene, a construção das relações afetivas e socíais,
e a transformação das reflexões e
experiências de vida em protagonismo juvenil
e empoderamento, através da fotografia
como arte e linguagem.
Assim, no reconhecimento de uma
comunidade castigada com a falta de chuvas
e a escassez de água, registramos o
antigo ribeirão, hoje, umas poucas poças
de lama, trilhas para os animais, moradores, motos e carros. Registramos ainda
algumas barraginhas para molhar as hortas, pomares e para a sobrevivência dos
animais, e a implantação de caixas para captação de água de chuva.
Em minhas reflexões com Alessandra, Kenedy e Silene, vamos recordando
de lama, trilhas para os animais, moradores, motos e carros. Registramos ainda
algumas barraginhas para molhar as hortas, pomares e para a sobrevivência dos
animais, e a implantação de caixas para captação de água de chuva.
Em minhas reflexões com Alessandra, Kenedy e Silene, vamos recordando
a poesia de Manoel de Barros e o seu pai que dizia: o mundo é sortido, Senhor.
Lori Figueiró
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