quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Diêgo Alves com D. Helena e D. Ilídia em São Gonçalo do Rio das Pedras, e as apresentações de "Sinhá Secada" e "A menina de lá" no Museu Casa dos Ottoni, Serro, MG.


Diêgo Alves
Ensaio do monólogo
"Sinhá Secada", 19-08-2014,
Museu Casa dos Ottoni, Serro, MG.


Apresentação do monólogo
"Sinhá Secada", 19-08-2014,
 Museu Casa dos Ottoni, Serro, MG.


Helena Siqueira Torres e
Vitor Gabriel Kuhne,
São Gonçalo do Rio das Pedras,
20-08-2014.



Diêgo Alves e
Helena Siqueira Torres,
São Gonçalo do Rio das Pedras,
20-08-2014.



Diêgo Alves e
Ilídia Batista Lopes,
São Gonçalo do Rio das Pedras,
20-08-2014.



Diêgo Alves 
Ensaio do monólogo
"A menina de lá", 20-08-2014,
Museu Casa dos Ottoni, Serro, MG.

Diêgo Alves 
Apresentação do monólogo
"A menina de lá", 20-08-2014,
 Museu Casa dos Ottoni, Serro, MG.



A vida nos reserva surpresas que só nos permitindo viver, viver de verdade, com intensidade, é que poderemos, apesar de tudo, sentir um átimo de quão maravilhosa ela é.
Após um dia de árduo trabalho na Cáritas, cansaço físico e mental, saio de Araçuaí tendo a cidade de Serro como destino. Menos de 10 km após Virgem da Lapa, a espera angustiante da liberação da estrada devido ao tombamento de uma carreta, carregada de eucalipto, que devasta o Vale de cima a baixo. Madrugada insone chego em Diamantina onde o amigo, diretor, sábio mestre e fotógrafo particular, Lori Figueiró, pacientemente, num frio de doer, me aguarda, de braços, sorriso e coração abertos. Compensado, aí, todo o cansaço, a presença amiga. É hora de pegar estrada e depois de mais um tempo chegamos em São Gonçalo do Rio das Pedras, onde adormecido o distrito, vagamos pensares sobre compromissos do dia seguinte. Sandrinha, sempre presente em pensamentos, em telefonemas ou mensagens delicadamente endereçadas ao coração e à alma.
Acordo com uma ansiedade tamanha que o estômago é quem sofre. Voltamos ao Serro, e já no Museu Casa dos Ottoni, sorrisos, abraços, cumprimentos cúmplices e muitas expectativas recebem o fotógrafo responsável pela belíssima exposição: “D. Zefa, A Sacralização do Cotidiano” e o ator convidado, ambos agraciados com pompas e circunstâncias de nos fazer pensar “merecemos tudo isso?”. Reconhecido o espaço, hora de ensaio, ensaio, ensaio. À noite, o velho frio na barriga e o receio de o público não chegar. Só receio. A comunidade serrana esteve presente, muitos jovens e estudantes prestigiaram a abertura da Exposição com entusiasmos, perguntas, comentários e elogios. Gratificante!
Sinhá Secada”: hora da verdade para o ator. Jogar com o público e com o íntimo. O início e as primeiras cenas, depois a entrega, total e prazerosa. Cumprida a missão do dia. Lori e eu retornamos a São Gonçalo com direito a observar no breu do tempo, o casacão da noite, como diria Nhinhinha. Estrelado que só. Mistérios sem fim...
Acordo já pedindo “se der gostaria de ver Dona Ilídia e Dona Helena”. Pedido mais que realizado. Saímos e já no portão da casa de Dona Helena, o sorriso, belo e sincero de quem recebe um filho: “Lori, que alegria você por aqui”. Eu já adiantando “e com uma mala sem alça para visitar a senhora.” “Diogo veio também!”Ela varia ente Diogo e Diêgo revelando, assim, parte dos meus múltiplos. “Vamos entrar, que alegria, vem pra cá”. As visitas a quem Dona Helena fazia sala, educadamente abrem espaço para calorosa recepção. Modelo já acostumada ao seu ofício de ser fotografada, pega o neto em consideração, Vitor Gabriel, nos braços e vai conduzindo a sessão fotográfica, com direito a choro, birra, sorriso e golfadas do pequenino. Sem espaço para mais ninguém, as visitas se despedem e ficamos os três, Lori, Dona Helena e eu, rememorando estórias, histórias, pessoas, saudades. Tempo corrido pra nós, tínhamos compromissos no Museu Casa dos Ottoni, e já na despedida, ela matreiramente agarrada ao seu fotógrafo-filho vai revelando vaidades: a sua aparição no canal GNT e a carta de um novo fã em Umuarama, lá longe, no Paraná, a quem devia uma resposta à altura de tamanho mimo. Daí a razão de estar perdendo o sono. E o conforto do fotógrafo-filho “não se preocupe com isso, seja a senhora mesma: espontânea como sempre foi, ele vai gostar ainda mais”. De novo, o sorriso largo frouxo, verdadeiro. Mais despedidas. Precisávamos ver Dona Ilídia.
Passos silenciosos, adentramos a casa e vamos diretamente ao quartinho dela, onde já sabíamos que ela estava assistindo a Santa Missa. A alegria ao nos ver não foi menor que a de Dona Helena. “Lori e suas mulheres amadas”, penso eu. E no olhar sorridente de Dona Ilídia, só confirmo o quanto Lori é amado e quanto a sua presença faz bem a essas senhoras de amor puro. “Estava rezando pros meus amigos. Sempre rezo e vocês chegaram.” Mais fotos. Somos levados ao outro quartinho onde ela carinhosamente pede pra sentar ao meu lado, como ela diz, “meu bem, gordão, de saúde.” Muitos sorrisos e lembranças. Impressiono com a vitalidade e mostra de juventude e lucidez de quem em junho passado celebrou 99 anos. “Olha eu rezei pra você no seu aniversário. E no meu teve até bolo.” Impressionante como ela que tinha me visto apenas 3 vezes e ouvido que o meu aniversário era dois dias antes do dela, tão facilmente se lembrou e ainda, rezou por mim e para mim. Sinal de bem querer. E que felicidade naquele rosto mais lindo ao receber de minhas mãos o santinho com a imagem de Nossa Senhora da Abadia, que Lori trouxe para ela. “Esses presentes são bons, são uma forma da gente olhar pra eles e lembrar que quem deu, foram pessoas queridas, que a gente sempre reza. E quando a gente olha matando a saudade, eles aparecem pra nos ver”. Palavras de Dona Ilídia que vão direto ao mais profundo do meu Ser e fazem com que eu pense quão bom é ser parte na vida de alguém. “São essas coisas, Diêgo, que não têm preço na vida”, diz meu amigo Lori. O que me assusta é que de fato, daqui a um tempo, bem cedo até, não teremos mais esses velhinhos e velhinhas sábios em leituras e vivências de mundo a compartilhar conosco seus saberes, sabores e sonhos. Sim, porque sonham e sem palavras nos dizem, “viver é muito bom”. Pena que toda essa sabedoria esvair-se-á no tempo, porque os jovens de hoje, não têm a juventude necessária para perpetuar esses valores. Mais despedidas. Precisamos chegar ao Serro para mais uma rodada de ensaios e preparação para “A Menina de Lá”, outro sonho que humilde e brilhantemente Sandrinha e Lori compartilham comigo. Grace, pensamos em você. Quem sabe com “A benfazeja”?
Ensaio, ensaio, ensaio e muitas emoções: transportar para o artístico toda uma gama de emoções e sensações pessoais sem fazer disso terapia, se jogar no abismo dos sentimentos é algo arriscado, perigoso, talvez por isso mesmo, belo. O Teatro é mágico. E antes de ir para lá, Nhinhinha encanta as pessoas que ouviram e viram sua curta, porém marcante história.
Missão mais uma vez cumprida e a certeza de termos transformado pessoas, tirando-as do lugar comum. Junto com elas experimentamos a possibilidade de um novo olhar, de uma nova leitura de mundo e por alguns instantes fomos um só corpo, uma mesma vida.
Diêgo Alves
Araçuaí, 27 de agosto de 2014.
Rememorando felizes dias em São Gonçalo do Rio das Pedras, Serro, Vale do Jequitinhonha, MG