quarta-feira, 27 de junho de 2012

Dona Helena e seus saberes III







Na luz que emana dos olhos de D. Helena,
a cumplicidade e admiração
nos olhos de Lilian, Nicolle
e Liliane.
Vejo como é que os olhos podem.
E creio, no realce de alguma coisa
que o entender da gente por si não alcança,
assim, como às vezes costumava cismar Riobaldo.
E mais, sabedores como somos, Marco Antônio,
de que a vida é mais ou menos,
vamos prontos, empurrando tudo para a frente,
como setencia D. Helena.

A vocês, meninos, os meus agradecimentos mais sinceros.
Abraços, Lori.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Dona Helena e seus saberes II



Dona Helena e Seus Saberes
Fotografias de Lori Figueiró

Atualmente, vivemos em uma época de grandes transformações, principalmente nas áreas econômica, tecnológica e sociológica (através da globalização da informação). Esse contexto cria a necessidade de refletirmos acerca do lugar em que se coloca o universo individual, principalmente a individualidade ainda não totalmente integrada a uma cultura urbana, mas representativa de um universo rural e isolado, em franco processo de esfacelação.

as cartas mesmo... outro dia mesmo, tinha uma pessoa... falava: ‘Está usando carta mais não! Isso agora é telefone para todo canto; tem celular... não Helena, porque as cartas que você escrevia...’.
Eu escrevia cinco, seis cartas por noite, porque de dia eu trabalhava para os outros... eu não tinha tempo... à noite que eu ia escrever... o pessoal só trazia o envelope e o papel... só, pronto!”

Num conjunto de imagens que se propõe a desvendar o pessoal, a representação dos objetos que compõem essa identidade exige constantemente uma seleção, pois qualquer tipo de redundância figuraria como sinônimo, acabando não significando coisa alguma em meio ao conjunto da obra. Este foi o desafio – delicioso desafio – que Lori Figueiró enfrentou.
Prova disso é a profusão de imagens no universo virtual que não nos dizem nada, pois são tomadas pela ilustração e pela figura e não pela sua representação artística. Se o distanciamento de outrora foi sendo substituído pela conectividade, nem por isso as identidades locais se transformaram completamente; elas, por meio da comparação com outras comunidades, passaram a reconhecer a sua importância e o caráter único e individualizante que lhe confere sua identidade, compreendendo a permanência como algo diferente do engessamento de suas práticas e saberes. Assim aconteceu em São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro.
Dona Helena é uma pessoa “conectada” ao mundo porque ela o percebe, entende suas transformações e pensa a sua inserção nele, mas sem abrir mão de sua individualidade. Escreve poemas, cria e recria seu presépio e as histórias que conta.

Recriar assim... porque, naquele tempo, os pais da gente... no interior é interior, é cultura do interior, até o palavreado... tudo é do interior... e eles contavam as histórias simples... tudo do jeito que eles também escutaram dos pais deles e eles passavam para a gente... e hoje eu conto para as pessoas de fora... então...”

Numa conversa ela lamenta a sorte de chineses, após algum desastre natural e, no instante seguinte, comenta que a industrialização/mecanização deixou de empregar: “agora trabalham dez onde trabalhavam cem...”. Ela lembra um Guimarães Rosa de saias:

A vida é mais ou menos... porque você leva esta vida ‘mais ou menos’ até o fim e ninguém está sabendo o que está acontecendo com você, o que está passando... é ‘mais ou menos’, uai! No mesmo dia você está triste, pensativo e tudo... (alguém pergunta:) ‘Como você está? Tudo bem?’ (e você responde:) ‘Mais ou menos’!
Pronto! E você empurra tudo para a frente!”

Com esta exposição o Museu do Diamante é o conector que mostra “um mundo” para as pessoas e os saberes desta mulher... e, quando encontrá-la, ela gostará de conhecer os seus saberes.
MUSEU DO DIAMANTE – IBRAM – MINC

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Dona Helena e seus saberes









Imagens que compõe a Exposição Dona Helena e seus saberes no
Museu do Diamante, em Diamantina, 22/06/2012 a 30/06/2012

Devo a ela, D. Helena, muito do meu olhar cuidadoso.
Assim, quando recebi de Lilian Oliveira, o convite para uma exposição no 
Museu do Diamante, pensando o mundo em transformação, não tive dúvidas,
D. Helena seria a homenageada. Percebi naquele momento a oportunidade
de abrir uma das portas do meu universo particular tão bem preenchido
pela presença sábia e sensível de D. Helena Siqueira Torres.

A você D. Helena, o meu abraço e os mais sinceros agradecimentos.
                                                                                    
                                                                                           Lori Figueiró









sexta-feira, 15 de junho de 2012

Janelas de São Gonçalo



Helena Siqueira Torres












      
         Adelino Eugenio da Cunha











 Ilídia Batista Lopes











                                                                                         Nestor Araújo 












Geraldo dos Santos Oliveira e
Maria José Santos

                    
           Raimunda Luiza Santos


José da Silva Ribeiro












"Ah, um sonho de vida... Não sei se seria um sonho, talvez mais um desejo mesmo: de uma convivência mais harmoniosa, das pessoas compartilharem mais as coisas, as alegrias, os desejos. A construção de uma sociedade mesmo, de uma convivência mais harmoniosa, mais criativa, essa coisa de lidar com o lúdico, com a poesia da vida. Acho que esse é um sonho, um desejo mesmo de ver realizado. Eu acho que é preciso trabalho, essa construção do dia-a-dia, mas acho que é possível fazer isso de uma forma mais lúdica, mais prazerosa. Talvez seja um sonho, talvez o maior sonho meu seja esse mesmo."

Fiz a confissão acima a Márcio e Ricardo, Os Coletores de Sonhos, entre cafezinhos e quitandinhas de Eva e Marlene e bons dedos de prosa, numa manhã do Festival de Férias
em São Gonçalo do Rio das Pedras, em 2010. Os sonhos coletados por Márcio e Ricardo, se transformaram em partes de um espetáculo, que os mesmos, apresentaram em São Gonçalo naquele Festival e continuam apresentando em suas andanças. Curiosamente, por coincidência ou não, e por motivos, os mais diversos, venho imprimindo todo um movimento voltado para o que eu desejava e desejo para a minha vida e para a vida. A série Janelas de São Gonçalo, reflete um olhar mais cuidadoso e lúdico com o vivenciar e sentir a vida, no que ela tem de mais profundo, e retomando como minhas as palavras que Ricardo num e-mail recente me enviou, Que ele, o seu sonho, permaneça vivo em todos nós.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

"Eu pegado na viola eu faço muita harmonia"



                       Bernardino Lopes de Caldas, trovador em Ribeirão de Areia,
                            povoado de Jenipapo de Minas, improvisa e interpreta
                                                versos de autoria própria.

Sem cantar..."é perigoso até eu morrer mermo"



                  Para afugentar a solidão e as tristezas, Rita Pinheiro Santos Souza,
                           confessa a necessidade em cantar, além de declamar
                                          versos de autoria do marido.


                                               Vídeo-documentário selecionado no                                                                                       3° Festival de Cinema de Montes e Claros,
                                                      22 a 27 de maio de 2012.
                   

domingo, 3 de junho de 2012

Aleila, "é tudo brincadeira".












 


Aleila de Caldas Moreira,
e o Grupo de Roda Luz que Brilha,
recebendo a visita de  
Bernardino Lopes de Caldas.












Sexta-feira, finalzinho de tarde, combinamos de nos encontrar na Casinha de Cultura
Flor de São João. Era a segunda vez que me encontraria com Aleila. Levava comigo
a luz do seu olhar, a alegria das suas mãos, a dança dos seus pés, a poesia dos seus
versos e cantigas e a força que emanava de ser mulher, mãe de 7 filhos, lavradora,
brincante e poetisa. Assim, que nos avistamos, Aleila batendo palmas e cantando:

eu vou fazer meu recortado
na folha da bananeira
na folha da bananeira

e eu desprevenido e acanhado, recebi o seu abraço e os versinhos que eu deveria
ter respondido a ela:

ocê me dá a sua mão
eu choro, se ocê for namoradora
se ocê for namoradora

Ao som de muitas palmas, do violão de Sr. Bernardino e da Caixa de Folia de Maria Geni,
Aleila cantou versos e cantigas, dançou Roda, Alinhavado e o Nove com o Grupo de Roda
Luz que Brilha, noite adentro, outras estrelas, até a cabeceira do São João dos Marques.
Respondendo às minhas indagações, Aleila foi me revelando, sabe Lori, não costumo 
anotar as palavras que escrevo, guardo aqui na cabeça, nos cadernos, pouca coisa, 
é tudo brincadeira. E assim como quem nada quer, vou falar procê uma poesia 
que eu fiz outro dia mesmo, ainda não tem nome, o nome eu te falo depois, 
é só ocê me alembrar.

Veio alguém
bateu em minha porta
eu falsiei e não quis abrir
pensei que fosse a saudade
que viesse a me perseguir.
Bateu de novo com força
mas deixou, não insistiu
desceu a escada correndo
e para sempre partiu
deixando em minha porta
estas palavras fatais:
eu era felicidade
vou e não volto nunca mais!

Meu endereço é rua da amargura
número do coração
avenida da paixão,
você me encontra
na casa da solidão.

Esta é a única maneira
de encontrar o meu coração.


Emocionado, pedi a ela que comprasse um caderno e anotasse os seus versos e cantigas,
e tudo aquilo que ela chamava de brincadeira. Nos despedimos com a promessa de outros
encontros, outras brincadeiras anotadas num caderno.
Na noite estrelada, Aleila correndo para dentro da casa, cantava:

Oi, bate a paina, sacode a paina
ponhe a paina pra secar
quando for a meia noite
quero ver paina voar

                                                                                                   Lori Figueiró

D. Evangelina e a borboleta errante





Evangelina Gonçalves Soares,
integrante do Grupo de Roda 
Luz que Brilha, em
São João dos Marques, povoado
de Chapada do Norte,
e Bernardino Lopes de Caldas.




No entardecer da última sexta-feira, D. Evangelina, muito delicadamente recorreu a Sr. Bernardino:
Bernardo, toca o seu violão pra mim, quero cantar pra Lori, uma cantiguinha do fundo
de minha infância, eu era menina, muito novinha. Naquele tempo, meu pai contratava  
uns homens pra progredir lavoura, um moço muito bonito, sempre de tardinha, com
uma voz tão bonita e tão triste, cantava a Borboleta, não me esqueço nunca. Um dia,
Lori, não vi mais o moço, meu pai dizia que aquele moço era um homem sofrido,
sem cabimento.
Eu nunca mais ouvi a cantiguinha, nunca mais ninguém cantou pra mim!


Figuei com uma borboleta
sem rumo na vida
e hoje ela vem voltando
triste, arrependida

trazendo seu rosto manchado
seu olhar cansado
e desiludida.

O mundo é um livro aberto
a gente lê de perto
as faltas cometidas.

Desde que você foi embora
não me conformei
motivo pra tu me deixar
eu nunca te dei

viver assim abandonado
sem ser o culpado
tanto que eu chorei.

Hoje, no meu despreso
dos teus grandes erros
nunca te perdoei.

Borboleta errante
não te quero não
já é muito tarde
pra te dar o perdão

nossos passados já não voltam mais
segue seus caminhos
segue seus carinhos
sem olhar pra trás.

                        ( autor desconhecido )


Encantado, olhando nos olhos de D. Evangelina, que olhavam distante, tentei reencontrá-la
em uma tardezinha da sua infância, mais aquele moço sofrido e sem cabimento. Não os encontrei...Presente de uma outra tardezinha, em São João dos Marques, D. Evangelina,
ainda cantou para mim, por duas vezes, a Borboleta.

                                                                                                             Lori Figueiró