quinta-feira, 21 de junho de 2012

Dona Helena e seus saberes II



Dona Helena e Seus Saberes
Fotografias de Lori Figueiró

Atualmente, vivemos em uma época de grandes transformações, principalmente nas áreas econômica, tecnológica e sociológica (através da globalização da informação). Esse contexto cria a necessidade de refletirmos acerca do lugar em que se coloca o universo individual, principalmente a individualidade ainda não totalmente integrada a uma cultura urbana, mas representativa de um universo rural e isolado, em franco processo de esfacelação.

as cartas mesmo... outro dia mesmo, tinha uma pessoa... falava: ‘Está usando carta mais não! Isso agora é telefone para todo canto; tem celular... não Helena, porque as cartas que você escrevia...’.
Eu escrevia cinco, seis cartas por noite, porque de dia eu trabalhava para os outros... eu não tinha tempo... à noite que eu ia escrever... o pessoal só trazia o envelope e o papel... só, pronto!”

Num conjunto de imagens que se propõe a desvendar o pessoal, a representação dos objetos que compõem essa identidade exige constantemente uma seleção, pois qualquer tipo de redundância figuraria como sinônimo, acabando não significando coisa alguma em meio ao conjunto da obra. Este foi o desafio – delicioso desafio – que Lori Figueiró enfrentou.
Prova disso é a profusão de imagens no universo virtual que não nos dizem nada, pois são tomadas pela ilustração e pela figura e não pela sua representação artística. Se o distanciamento de outrora foi sendo substituído pela conectividade, nem por isso as identidades locais se transformaram completamente; elas, por meio da comparação com outras comunidades, passaram a reconhecer a sua importância e o caráter único e individualizante que lhe confere sua identidade, compreendendo a permanência como algo diferente do engessamento de suas práticas e saberes. Assim aconteceu em São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro.
Dona Helena é uma pessoa “conectada” ao mundo porque ela o percebe, entende suas transformações e pensa a sua inserção nele, mas sem abrir mão de sua individualidade. Escreve poemas, cria e recria seu presépio e as histórias que conta.

Recriar assim... porque, naquele tempo, os pais da gente... no interior é interior, é cultura do interior, até o palavreado... tudo é do interior... e eles contavam as histórias simples... tudo do jeito que eles também escutaram dos pais deles e eles passavam para a gente... e hoje eu conto para as pessoas de fora... então...”

Numa conversa ela lamenta a sorte de chineses, após algum desastre natural e, no instante seguinte, comenta que a industrialização/mecanização deixou de empregar: “agora trabalham dez onde trabalhavam cem...”. Ela lembra um Guimarães Rosa de saias:

A vida é mais ou menos... porque você leva esta vida ‘mais ou menos’ até o fim e ninguém está sabendo o que está acontecendo com você, o que está passando... é ‘mais ou menos’, uai! No mesmo dia você está triste, pensativo e tudo... (alguém pergunta:) ‘Como você está? Tudo bem?’ (e você responde:) ‘Mais ou menos’!
Pronto! E você empurra tudo para a frente!”

Com esta exposição o Museu do Diamante é o conector que mostra “um mundo” para as pessoas e os saberes desta mulher... e, quando encontrá-la, ela gostará de conhecer os seus saberes.
MUSEU DO DIAMANTE – IBRAM – MINC

Nenhum comentário:

Postar um comentário