domingo, 7 de abril de 2013

Janelas revisitadas; D. Helena e Sr. Nestor, e as dúvidas e incertezas da vida.


Helena Siqueira Torres















Sábado, final de tarde, assim que D. Helena recebeu das minhas mãos
as suas fotografias e um exemplar de Histórias da Terra Mineira de
Carlos Góes, ela, de pronto, declamou:

Bárbara bela,
Do Norte estrela,
Que o meu destino
Sabes guiar;
De ti ausente
Triste somente,
As horas passo
A suspirar.

Bárbara Heliodora, ela, Lori, ficou perturbada com a ausência do marido.
É, quantos anos, o tempo voa, parece que foi ontem, eu tava com uns onze
anos, a gente entrava na escola com sete, D. Maria Inês, Maria Inês dos Santos,
tia de Geraldinho, professora boa, boa mesmo, mas brava, brava só se vendo, e
naquele tempo, Lori, era as Histórias da Terra Mineira e os Manuscritos, os
Manuscritos, aquela garrancheira toda, hoje, eu num sei não, acho que eu num
conseguiria ler não, D. Maria Inês falava: Helena, a gente levantava e lia uma
história, depois outra vez para corrigir a pontuação e outra vez, três vezes,
entrava ano e saía ano a mesma coisa, o livro das terras mineiras, os
Manuscritos e no último ano, eu me lembro, Rui Barbosa, era assim, num
tinha livro, esses e aquele caderninho de oito folhas, muitas vezes aquelas
linhas apagadas, a caneta de tinteiro, derramando, rebocando tudo... até parece
um sonho, às vezes, Lori, eu fico pensando, parece fantasia, mas depois eu digo,
foi assim mesmo e se não fosse a minha vó, aqui o tempo todo cachimbando,
graças a Deus, Lori, eu tive ela, porque para o meu pai e minha mãe eu vivia na
roça, no trabalho com eles, minha é que insistia, insistia e fazia eu ir na escola,
se não, Lori, nem o terceiro ano eu tinha, analfabeta de tudo, mas minha vó, que Deus
a tenha, agradeço muito a ela, ela que me obrigava, me ensinou croché, bordar, me
tomava a tabuada e as lição, sem saber ler, coitada, mas me fazia ler, ler e repetir,
como D. Maria Inês, horas a fio e é assim, como eu digo, parece um sonho, no
meu tempo não dava para acreditar que o mundo ía mudar tanto, computador que
eu nunca usei e nem sei se vou usar, celular, as televisão, tanta novidade, cadê as
certezas todas do meu pai e do povo todo, num é, eu pergunto mesmo, aonde que nós
vão parar, num é, num nem para acreditar... você vê, penso que temos que ir
levando a vida e fazendo o bem, num é mesmo?

Sim, e falei com D. Helena de As ensinanças da dúvida,

Tive um chão ( mas já faz tempo )
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.

Agora ( o tempo é que o fez )
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.

Mas nele ( devagar vou )
me cresce funda a certeza
de que vale a pena o amor.

poema de Thiago de Mello, que eu havia declamado para Sr. Nestor no ínicio da
manhã enquanto delongavamos sobre as dúvidas e incertezas da vida.
Lori, a única certeza, meu prezado, é que para a morte não tem tempo ruim, mais
dia menos dia, ela chama todos para o seu convívio. Eu aqui, me faltava uma
coisa na vida, uma pessoa para eu abraçar aqui com estas mão e ele chegando,
a caminho, você sabe, a minha família, dez filhos, tenho ainda oito, vinte cinco
netos e doze bisnetos, e o que me faltava, batendo na porta, um tataraneto,
um bisneto meu encomendou e eu aqui esperando ele... um presente...
uma alegria sem cabimento, quem diria...

                                                                                                         Lori Figueiró



Nestor Araújo




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