sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Baranda, "elas vestiam é igual eu, toda vida eu visto comprido, é o sistema."



Blandina Silva Souza e
Aline Aparecida Gomes
Ruas Santos























Na tarde de sexta-feira, primeiro de fevereiro, em Araçuaí, depois de uma visita a D. Zefa,
e ciceroneado por Diêgo Alves e Aline Ruas Santos, tive o prazer e a alegria em conhecer
D. Baranda, com seus 93 anos e uma vitalidade contagiante, que entre tantos outros dons,
é benzedeira, batuqueira e foliã. Com seu coração generoso e afetuoso, D. Baranda
recordou e narrou acontecimentos e afazeres, suas crenças e a fé em São Sebastião,
as danças de roda e o nove, os versos e as cantigas de Pastorinhas e Folia de Reis,
as rezas e benzeções aprendidas com os pais e avós, além de descrever a sua convivência
com os Trovadores do Vale e com a sua madrinha de crisma, Lira Marques. Depois de benzer
Aline, a pedido da mesma, estou precisando, Baranda, da sua força e da proteção das
suas orações e do seu coração, D. Baranda, entre narrativas e outras cantigas, cantou
para nós uns versinhos das Pastorinhas.

E as Folias de Reis, Baranda ?
A Folias de Reis...
Eu sei muitas música, mas num confuso, né, as música assim...
Agora nós cantava também lá, lá era muito, em Medina,
depois num usava mais, era Pastorinha.
Cantava música de Pastorinhas?
É pastorinha, a Pastorinha aqui no meu tempo aqui, não mexo mais.
Como que era as Pastorinhas?
Pastorinha...
Aqui antigamente assim, ocê nunca viu, viu?
Era as mulher, as mulher que fazia
aquele tanto de moça, vestida, fantasiada
umas batendo pandeiro, outras batendo... quadrilha...
e elas cantava:

Eu cheguei na vossa casa
por aqui viemos cantar
acordar quem está dormindo
que viemos festejar

Os servos do oriente
são pobres, não tem dinheiro
vai forrar o céu inteiro
com folha de canoeiro

Vósmece dono da casa
abra a porta, acenda a luz
recebeis com alegria
o senhor do oriente.

Nos cantava e oferecia, agradecia.
E como é que elas vestiam, era colorido, como é que era?
Elas vestiam é igual eu, toda vida eu visto comprido,
é o sistema, toda vida era comprido.
E as Pastorinhas era igual, então?
Tudo comprido, roupa de babado, comprido, cigano...
Canta mais um pouquinho das Pastorinhas pra nós.
Vou cantar outro.

O cantar do galo
nasceu Jesus em Belém
nasceu o nosso Deus
que nasceu pra nosso bem

O cantar do galo
nasceu Jesus em Belém
nasceu o nosso Deus
que nasceu pra nosso bem

Vamos, vamos Pastorinha
vamos todos em Belém
vamos ver se nós alcança
entrada do novo ano

O cantar do galo
nasceu Jesus em Belém
nasceu o nosso Deus
que nasceu pra nosso bem

O cantar do galo
nasceu Jesus em Belém
nasceu o nosso Deus
que nasceu pra nosso bem

Deus lhe pague pela esmola
Deus que muito que
que na terra sofrendo
e no céu a salvação.

O cantar do galo
nasceu Jesus em Belém
nasceu o nosso Deus
que nasceu pra nosso bem

É pastorinha...


                                                                                             Lori Figueiró


Um comentário:

  1. Maravilha!
    Riqueza para o povo do Vale do Jequitinhonha. Uma folia feita por mulheres, danças de roda e nove, pastorinhas. Quanta informação bacana. Desperta a vontade em querer saber mais...

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