sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

D. Luzia Gonçalves poetando fé e orações.



Luzia Gonçalves da Silva














Em Abadia, comunidade de Carbonita, enquanto D. Luzia me confessava a sua
devoção a Nossa Senhora da Abadia e a força das suas palavras, eu meu filho,
falo as palavras, quem cura é Deus e a fé, é preciso ter fé, sem a fé, não acontece
a cura, Deus deseja e eu sou sua serva, mas a pessoa precisa ter fé, acreditar.
Assim fui recordando o velho Rosa narrando uma das passagens de Riobaldo
pelas terras do sertão: na pessoa dele, Diadorim, vi foi a imagem tão formosa
da minha Nossa Senhora da Abadia, e mais o realce de alguma coisa que o
entender da gente por si não alcança.
Contemplando a luz em seus olhos, fui ouvindo D. Luzia:
Eu meu filho, o senhor pode acreditar, eu acredito demais em milagre, ele existe, existe...
tem que ter muita fé porque eu já recebi muitos milagres, num tá vendo o queu te contei.
Este menino aí, estava lá entre a vida e a morte, longe de mim, e tá todo mundo
aí como eu pedi, como eu pedi o Divino Pai Eterno e a Nossa Senhora da Abadia
e também a Nossa Senhora do Perpétuo-Socorro, que eu pedi ajoelhada lá...
rezando... rezando e pedindo eles, e graças a Deus, ele tá aí como ocê tá vendo.
Entre um assunto e outro, perguntei a D. Luzia sobre as suas orações e as bençãos
que ela consentia.

Eu, meu filho, sei benzer de tantos males, cobreiro, mau-olhado, quebrando,
espinhela caída, zipa, sol na cabeça... bicho peçonhento...
Recordando de Sr. Bernardino, em Ribeirão de Areia, indaguei se ela benzia
para curar picada de cobra e para tirar cobra de terreno.
Sei sim, meu filho, quando ainda havia muita cobra, eu benzia assim:
bicho peçonhento                                                                                                                                               
ocê não ofendeu ( e falava o nome da pessoa ou criatura )
ocê ofendeu o solado do sapato
do padre Frei Clemente de Jesus.
Com fé em Senhor São Bento,
seu veneno não vale nada.
E aí eu rezava um Pai Nosso e uma Ave Maria
para o Senhor São Bento, a divindade do brejo de Roma
e as três pessoas da Santíssima Trindade.

Benzo de engasgo também, o senhor quer ouvir?
Engasgo é assim, o senhor manda a pessoa virar de costa assim,
e vai fazendo cruz nas costa dele, e fala:
Casa de homem bão, mulher ruim,
casa suja, esteira de palha rasgada,
pra onde onde este mau entrou
praí ele não sai.
Fala três vezes e reza um Pai Nosso e uma Ave Maria
para senhor São Brás.
O senhor pode acreditar, não tem engasgado que
não desengasga, com em Senhor Deus.

Meu padrim que me ensinou, ele morreu com noventa e tantos anos,
é meu segundo pai, me ensinou tudo, tudo!
E as benzeção que eu faço de mau-olhado e de espinhela caída é no copo com água.
Vou ensinar pro senhor, é assim:
O senhor reza primeiro Maria Concebida, três Maria Concebida.
Depois o senhor pega três brasa e fala,
essa daqui é de mau-olhado, o senhor fala,
mau-olhado, foi dois quem pós, três quem tira
( quer dizer os dois olhos da pessoa )
eu te curo de mau-olhado com muita com as três pessoas da
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Agora joga outra ( dentro do copo e fala )
espinhela caída, foi dois quem pós, três quem tira
eu te curo de mau-olhado, espinhela caída com muita com as três pessoas da
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Depois na terceira brasa o senhor fala,
inveja, foi dois quem pós, três quem tira
eu te curo de mau-olhado, espinhela caída e inveja com muita com as três pessoas da
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.
Depois o senhor reza um Pai Nosso e uma Ave Maria para as três pessoas
da Santíssima Trindade e Nossa Senhora da Soledade.

Agradecido e emocionado, me despedi de D. Luzia, em companhia de Kênio, seu neto,
prometendo voltar o mais breve possível. Tínhamos como não podíamos esquecer, um
encontro com os meninos do Projeto olhares em Foco, no Córrego da Água Limpa para
um mergulho em suas águas.


                                                                                                                    Lori Figueiró


                                            Fotografia de Kênio José Silva Souza





Um comentário:

  1. São Brás e São Bento, no Centro-Oeste de Minas D. Bia, com seu galho na mão ia abrindo clareiras para passear pelo mato.
    Seu trabalho Lori, vem nos lembrar a força dos Saberes Populares. Boa sorte sempre!

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