sábado, 15 de junho de 2013

Coral Ribeirão de Areia, Imagens, Prosas e Poesias II


  O Fotógrafo


Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerquei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de
braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.

                                                                             Manoel de Barros





Maria Silene Moreira Alves,
18 anos








Alessandra Guimarães Rodrigues,
17 anos


Alessandra Guimarães Rodrigues

    Maria Silene Moreira Alves










 

Maria Silene Moreira Alves



           Kenedy Leite Lisboa,
           16 anos



Kenedy Leite Lisboa


Kenedy Leite Lisboa














                                        Silene fotografando Alessandra e Kenedy




                                Encontro com Manoel Rabelo da Cruz,
                                fotografia de Alessandra Guimarães Rodrigues.




Enunciado

Agora não posso mais priscar na areia quente
que nem os lambaris que escaparam do anzol.
Não posso mais correr nas chuvas na moda que
os bezerros correm.
Nem posso mais dar saltos-mortais nos ventos.
Agora
Eu passo as minhas horas a brincar com palavras.
Brinco de carnaval.
Hoje amarrei no rosto das palavras minha máscara.
Faço o que posso.

                                                 Manoel de Barros


O menino de ontem me plange.

                                                Manoel de Barros




Com Alessandra, Kenedy e Silene, a construção das relações afetivas e socíais,
e a transformação das reflexões e experiências de vida em protagonismo juvenil
e empoderamento, através da fotografia como arte e linguagem.
Assim, no reconhecimento de uma comunidade castigada com a falta de chuvas
e a escassez de água, registramos o antigo ribeirão, hoje, umas poucas poças
de lama, trilhas para os animais, moradores, motos e carros. Registramos ainda
algumas barraginhas para molhar as hortas, pomares e para a sobrevivência dos
animais, e a implantação de caixas para captação de água de chuva.
Em minhas reflexões com Alessandra, Kenedy e Silene, vamos recordando
a poesia de Manoel de Barros e o seu pai que dizia: o mundo é sortido, Senhor.

                                                                                                   Lori Figueiró




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