terça-feira, 20 de maio de 2014

D. Zefa, A Sacralização do Cotidiano II





D. Zefa, A Sacralização do Cotidiano


Deus quando preparou o homem 
 
ele pôs o fogo no coração do homem.

O fogo tá dentro de nós. 
 
O amor é o fogo que nunca se apaga.”


                                Josefa Alves dos Reis


De origem nordestina, Sergipe, Josefa Alves dos Reis, rompeu barreiras, atravessou a dor do desfacelamento familiar e veio parar nas Minas Gerais. Especificamente Araçuaí, cidade do Vale do Jequitinhonha, onde fincou raízes e floresceu no artesanato. Trabalhou vários anos com cerâmica, mas foi na madeira do cerrado que encontrou matéria-prima para verbalizar o seu imaginário e reproduzir o seu olhar sobre as relações e questões humanas, garantindo, por muito tempo, o seu sustento até a sua aposentadoria. Segundo ela, a opção pelo trabalho em madeira é porque ela cura. “Cada pau de madeira cura uma parte do corpo, enquanto o barro resfria e adoece”.

O seu trabalho, como o de tantas outras mulheres do Vale, transcendeu os costumes e a realidade da época, quando em suas criações humanas expressou o instinto materno de reprodução, proteção, acolhimento e ainda contribuiu para o reconhecimento da cultura do Vale.

Hoje, Patrimônio Cultural, Zefa, acostumada a um grande público de admiradores, dedicou-se a arte de contar histórias. E a faz com muita habilidade e destreza que prende a atenção dos ouvintes e dissemina a sua sabedoria. Nessa magia entre relatos de sua vida pessoal e o imaginário, expõe a sua fé, traduzindo vários ensinamentos cristãos e outros extraídos de sua intimidade com a natureza, principalmente, a Mãe Terra que, conforme sua crença, há uma sincronia com Deus e lhe dá tudo que necessita, basta pedir. É raizeira, rezadeira e benzedeira nata.

Nas paredes de sua casa há uma extensa exposição de seu universo profissional e religioso. Essa memória que visualiza todos os dias a fortalece e não se deixa abater pelos 89 anos de idade. No seu dia-a-dia vai esculpindo a Mestra Zefa e fazendo histórias que nos encantam. O seu mundo exterior é habitado por vários animais: gatos, periquitos com quem há um bom convívio. Eles preenchem a sua solidão com afagos e acolhem bem os visitantes.

Essa exposição é parte do Projeto Sacralização do Cotidiano, de autoria do diamantinense, Lori Figueiró, fotógrafo e video-documentarista, membro fundador do Centro de Cultura Memorial do Vale que, através de sua refinada percepção fotográfica, captou essa singularidade - ZEFA - e por meio desses registros, nos apresenta a sua pluralidade expressa em sua arte, sua fé, seu imaginário, seu cotidiano, sua memória que compõem a sua história pessoal e enriquece a cultura desse Vale.


                                                                                          Adna Figueiró Duarte





                                          Josefa Alves dos Reis, (D.Zefa)

Um comentário:

  1. Lori, diante da maravilha do seu trabalho poético valorizando o Humano pela foto...grafia como não citar Manoel de Barros:
    Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
    Fotografei o perdão.
    Vi um paisagem velha a desabar sobre uma casa.
    Fotografei o sobre.
    Foi difícil fotografar o sobre.

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