sábado, 3 de maio de 2014

Maria da Luz da Natividade Santos

                                            Sandrinha Barbosa Nogueira


         
Maria da Luz da Natividade Santos

Num faça isso, moço, num gasta a sua máquina comigo,
num carece não, põe sentido, num tem necessidade.
Ocê deve de saber, qu'eu num mereço...
Já a minha graça, pois eu conto:
Maria da Luz da Natividade Santos.
Como ocê num tá vendo, no meu rosto
os pé de pinto cresceram de dá gosto.
Disgosto! Já tive olhos de cetim, amendoados.
Chitãozinho rendado de bem querer!
Reconheço, num escondo não, num desenho
letra de alfabeto. Venho de princípios!
O meu pai, homem valente de trabalhador,
honesto nos trato, cumpridor de compromissos.
A minha mãe, bruta na delicadeza,
formosura de mulher prendada na lida e nos afazeres.
Orgulhosa de ser mãe de treze filhos, o mais velho
nasceu quando ela nem era ainda nem mulher de ser,
aprendeu com meu pai.
O que não se sucedeu comigo, moço,
o destino quando tem de ser, num deixa de ser,
distante das alegrias do corpo, amarguei desilusões
a labutar quer seja dia, quer seja noite
na tarefa obrigatória de criar os filhos
não gerados no ventre qu'eu carrego comigo
desde qu'eu vim ao mundo pelas mãos caridosas
e abençoadas da minha madrinha, dona Dos'Anjinhos.
O tempo vivido, com o tempo aprendemos, é tempo gasto!
E eu aqui, moço, carregando a inteira viuvez da família,
num resta mais ninguém, migraram tudo
pras terras de meu Deus, pai misericordioso,
piedoso no acolhimento.
Sozinha, ele vem me deixando de lado,
parece não me querer com eles.
As suas intenções, nem tento adivinhar,
não mereço conhecer os seus desejos,
vou me contentando em ser sua serva,
a filha de voz solitária, nascida e ungida
Maria de todos os Santos!

                                                       Lori Figueiró

                                                 
                                                           (Para Sandrinha Barbosa Nogueira,
                                                                           Luminosidade, movimentos...)








2 comentários:

  1. Reconhecendo-me nos tempos da percepção de Lori Figueiró. Maria da Luz da Natividade Santos e seus espaços, manifestações de princípios aprendidos. Meu caminhar seu moço muito amado, artista da luz, natividades em movimento.

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  2. A força das palavras ditas, assim sem atropelos nem zelos, perpassa a alma e leva-nos a um outro lugar. Seu Juscelino aguarda um encontro com Dona Maria da Luz da Natividade Santos

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