quarta-feira, 30 de maio de 2012

D. Felicina e o calor das suas mãos














Felicina Martins de Oliveira

Raízeira e benzedeira,
moradora em Muquém,
povoado de Jenipapo de Minas.









Manhã de terça-feira, Muquém, povoado de Jenipapo de Minas.
Assim que eu cheguei na casa de D. Felicina, ela foi logo declarando que se sentia honrada com a minha visita, mas que não entendia o desejo de um moço bonito da cidade querer conhecer uma velha de 84 anos. Também me declarou que não se reconhece como curandeira, apenas reza as palavras, quem cura, meu filho, é Deus, pai do menino Jesus. Orgulhosa, me confessou que não podia dizer a toda gente, mas o pé de Imburana à esquerda da casa e o pé de Jatobá Branco à direita, foram plantados para proteger ela e a família dos bruxos que vivem soltos pelo mundo. Quem tem uma família como eu tenho, e foi enumerando, 9 filhos, o meu único filho homem, um ouro de menino, Deus levou para a sua companhia, 19 netos e 10 bisnetos, precisa se guardar sempre, com muita fé e muita reza. E ajudar sempre a Deus e a seus filhos com as minhas rezas e os remédio que eu aprendi a ministrar. E que apesar de estar envergonhada e um tanto rouca, arranjei uma rouquidão que não me larga de jeito nenhum, quero cantar pro senhor uns versinhos de entrada de Santo Reis.

Santo reis chegando aqui
no dia seis de janeiro
no dia seis de janeiro
abra a porta senhora dona da casa
abra a porta e acenda a luz
abra a porta e acenda a luz
receber a Santo Reis
receber a Santo Reis
e o menino de Jesus
e o menino de Jesus.

Dá a esmola a Santo Reis
dá a esmola a Santo Reis
mas não dá por precisão
mas não dá por precisão
Santo Reis pede esmola
Santo Reis pede esmola
quem dá de bom coração
quem dá de bom coração.

Santo Reis, seu moço, pede esmola não é por precisão, ele pede é esprementando quem dá de bom coração. Generoso, meu marido, era devoto de Santo Reis, já tem 14 anos que está cantando com Nosso Senhor lá no céu, ele também gostava de uma comidinha com pimenta do reino, e tinha de ser com muita, e por falar em comidinha, seu moço, vamos almoçar.
De D. Felicina, guardo comigo o seu olhar doce e amoroso, seu jeitinho espevitado, o calor das suas mãos, o sabor do feijãozinho com arroz, abóbora moranga, muito alho e pimenta do reino, e a certeza de que tenho com ela uma dívida, voltar para cantarmos juntos, em janeiro, a Folia de Reis.

                                                                                                        Lori Figueiró                                                                         



Um comentário:

  1. Lori lindo o Blog, mas vindo de Você ja era de se esperar, muito sucesso...Em cada momento, um ato. Em cada ato, um pensamento. Em cada pensamento, uma saudade. Em cada saudade, uma história. Em cada história, uma aventura. Em cada porque, uma resposta. Em cada resposta, uma vida. Em cada vida, um saber. Em cada saber, uma certeza. Em cada uma, a certeza de que você é muito especial!! Parabens pelo seu maravilhoso trabalho.

    Te Adoro Muito Maria Flor De Maio.

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