quarta-feira, 8 de agosto de 2012

D. Alvina, "querida demais a vida toda".



Alvina Gomes da Silva e
Davi Francisco da Silva,
abril de 2011.

                 
        As mãos de D. Alvina
        e a lamparina que ela usava
        em suas caminhadas noturnas.
             







Eva Gomes Francisca Lopes











No início de julho eu voltei a Coqueiro Campo.
Roseli, me escreveu solicitando uma imagem, uma população de bonecas.
Pensei nas bonecas de Deuzani, me lembrei do seu quintal,
na sua cozinha a prosa delatando noite a dentro,
as mãos de Joaquim preparando o bolo de fubá
na folha de bananeira, a poesia da vida,
os olhos azuis e encantados de D. Izabel!
Assim que eu cheguei, Deuzani anunciando
os fatos e acontecidos suscedidos,
_ sei que ocê está de passagem, visita rápida,
qual passarim, de relance, mas ocê precisa visitar
Madrinha Alvina, ela fica perguntando Lori,
cadê o moço bonito dos retratos?
Ela muito fraquinha, o coração por um fio,
o médico falou que ela vai embora
a qualquer momento, que nem passarim.
Ocê sabe, não sabemos ao certo a idade dela,
é pra mais de 99 anos, e a vida toda naquela peleja,
rumando a qualquer hora, fosse de dia
ou madrugada, caminhando longas distâncias,
os menino não tem acordo certo de nascer,
como ocê mesmo já viu, e ela, parteira solicitada demais,
querida demais a vida toda.
Se fosse noite, o luzeiro de pavio na mão
picada a fora, podia a chuva caindo,
não media esforço, retribuíndo a Deus,
como ouvi ela dizer tantas vezes, o dom que ele deu a ela,
trabalhando voluntário, agradecida somente com os afilhados
e os filhos todos de umbigo.
E D. Alvina, as mãos em minhas mãos,
os olhos reconhecendo a partida
e neles o quanto a vida é provisória,
estou aqui meu filho, não sinto nada,
uma dorzinha lerda, o dificultoso é a vontade
de comer, a boca não quer aceitar nada.
Eva, coitada, não sabe o que mais fazer
e eu aqui, querendo ela aqui do meu lado,
um doce de filha, isso eu posso tanto gavar.
Eva, os olhos em neblina, alinhavava os cabelos da mãe.
Recordei o velho João Rosa, os tristes e alegres sofrimentos da gente...
Cismando com os claros e escuros da vida,
abracei D. Alvina pela última vez.


                                                                                               Lori Figueiró

Um comentário:

  1. Muito lindo o azul das imagens.
    Memórias que contam estórias,estórias que trazem a memória para viver o presente.
    Trabalhar com memórias e refazer-se sempre.

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